
Venha conhecer a verdadeira Parentalidade Consciente
Para mim, a grande dificuldade e o enorme sucesso deste tipo de parentalidade são um só e o mesmo: encontrar a criança defendida que existe em nós e reeducá-la de forma consciente.
É fácil perceber o conceito da Parentalidade Consciente. E é fácil enganarmo-nos em pensar que a estamos a seguir.
Quando realmente mergulhamos no desconforto do trabalho e aceitamos questionar tudo o que antes aceitávamos como verdades absolutas, então percebemos que a verdadeira Parentalidade Consciente significa entranhar fundo em nós próprios e criarmos uma relação consciente com a nossa imaturidade.
Para mim, a grande dificuldade e o enorme sucesso deste tipo de parentalidade são um só e o mesmo: encontrar a criança defendida que existe em nós e reeducá-la de forma consciente.
O verdadeiro desafio da Parentalidade Consciente: criar a nossa criança interior
Na maioria dos casos, a nossa criança interior esconde-se de nós de mil e uma formas diferentes. E quem a pode culpar?!
Com tanta crítica e repressão de sentimentos, a minha demorou um ano de trabalho e procura intensa a mostrar-se.
Foi num fim de tarde de Domingo que a encontrei. Foi um momento mágico e extremamente intimidante. E é o desabafo que escrevia a uma companheira de armas, neste trabalho de reeducação de nós próprias pelo bem dos nossos filhos, que quero hoje partilhar:
«Eu encontrei-a Mei, eu finalmente encontrei-a!
Ela estava escondida, ela está escondida. Mas desejando arduamente ser encontrada.
Sentada no chão frio, joelhos fletidos e encostados ao peito, abraçando as pernas como tentando ser mais pequena, cabeça escondida, olhos fechados.
Como ela está assustada, verdadeiramente aterrorizada. Quantas defesas ela criou, muros que pensa intransponíveis, arame farpado nos gritos que lança.
E como ela deseja ver tudo cair, como ela anseia por alguém que a veja, por uma alma que realmente abarque a dimensão da sua dor.
Ela não quer olhar, não quer sentir, não quer ouvir nem cheirar. Só desaparecer.
Aproximo-me devagar, ajoelhando-me ao seu lado e afagando-lhe as costas. Com o coração partido sussurro meigamente “eu estou aqui!”.
Com o nariz ainda enterrado nos joelhos, ela olha para mim, desconfiada.
Meu Deus, como é triste o seu olhar. Quanto desespero trespassam aqueles olhos, cansados, pisados, esgotados de tanto chorar.
Ela não acredita que eu falo a sério, ela não crê que eu vá ficar. Manda-me embora, exige que a deixe sozinha, chora, grita… e pede por favor.
Mas agora eu sei melhor, agora eu conheço-a, agora eu consigo ver.
Ela está aterrorizada. Enquanto grita “sai daqui” eu escuto a prece rezada em silêncio “por favor não vás, por favor não me escutes, por favor não saias”.
Meu Deus, como é gigante a sua solidão. Como é profundo o abismo que ela crê que a separa do mundo.
Ela acha-se feia, incapaz, repulsiva, destruidora e destruída. Ela sente-se desorientada e para sempre não amada. Não percebe porque ninguém a entende, não compreende o que fez de errado.
Ela tenta, tenta, tenta, dá o seu melhor a cada dia, cada hora, cada minuto, cada segundo. E nunca resulta, ninguém a vê, ela sempre falha.
Ela só quer um momento de sossego, de abandono deste mundo que é demasiado rápido e intenso. Ela só quer um segundo de descanso.
E volta a fechar-se. Joelhos fletidos, cabeça escondida, corpo em balanço. Ela só quer ser invisível por um momento, por um segundo fundir-se com o chão debaixo dela.
Meu Deus, como ela está magoada. Tem apenas 6 anos esta menina perdida. Mas parece ter quase quarenta.
Volto-lhe a sussurrar “eu estou aqui” e ela geme, baloiça.
Aproximo-me mais, volto a murmurar “eu estou aqui”. Desta vez ela levanta os olhos num repente, e responde furiosa “e depois? De que é que isso me adianta?”. Eu insisto “Eu estou aqui e vim para ficar! Eu estou aqui e não te vou abandonar. Podes berrar, estrebuchar, bater, ferrar, chorar, gritar e até pontapear. Eu estou aqui e vim para ficar.”
Finalmente ela desenrola um pouco, vai falar, recua, ganha coragem, olha-me nos olhos e finalmente pergunta “E quem és tu?”
“Eu agora sou a tua mãe e estou aqui, eu finalmente estou aqui, e vim para ficar!”
Ela não acredita, fecha os olhos, enrola o corpo e volta a baloiçar.
Mei, eu encontrei-a, eu finalmente encontrei-a, mas será que a consigo honrar?»
