
Louca, esquizofrénica, psicótica? Ou sou simplesmente adolescente?
Sinto que vivo num paradoxo, entre querer ser vista e desejar arduamente não o ser, entre sentir-me abandonada pelo mundo, esquecida por Deus e a vida, e ansiar desesperadamente que nenhum deles se aperceba de mim.
Gordon Neufeld descreve a Adolescência como uma ponte entre a infância e a idade adulta, uma travessia carregada de sentimentos de tristeza e solidão e várias novas formas de consciência. Pela primeira vez surge um vazio de vínculos saudável, desenhado pela natureza há milhares de anos, com o objetivo de criar um espaço onde é possível ao ser agora adolescente pensar por si e perceber quem é.
Mas se a abertura da ponte é inevitável, os sentimentos que vêm com ela são muitas vezes insuportáveis e resultam num ser humano para sempre preso na passagem, sem nunca chegar ao seu destino, por medo de os sentir.
O que acontece é que numa sociedade onde se promove o culto da felicidade, há gerações que esquecemos o papel da tristeza, da solidão e do sentimento de diferença no desenvolvimento emocional saudável do ser humano. Tal como o filme Divertida Mente tão bem ilustra, a verdadeira alegria e a vulnerável tristeza são as duas faces da mesma moeda, não existindo uma sem a outra.
Por isso, partilho o testemunho de como se sente uma adolescente emocionalmente saudável e no caminho da descoberta do seu verdadeiro eu. E pergunto: Quantos de vós saberiam validar os sentimentos desta menina/mulher, fazendo-a sentir que tudo é normal e possui uma razão de ser? E quantos de vocês tentariam negar o que ela sente, resolver-lhe a vida ou aconselhar a procurar ajuda psicológica?
É difícil não saber quem sou. É angustiante não saber para onde vou nem o que vai ser de mim. Por vezes penso que sou a única, a perdida, a ovelha negra do rebanho que é a raça humana.
Por vezes penso que vivia na doce ilusão que era alguém, alguém capaz. E, agora, finalmente acordei para a realidade que sou defeituosa, incompetente, inapta, incapaz.
Sinto-me inacabada. Como se uma parte de mim nunca tivesse nascido ou então se tivesse perdido pelo caminho que é a vida. Procuro-a desesperadamente, faço tudo para a encontrar e temo que tudo o que vou conhecer é o fracasso, para sempre, para todo o eternamente.
Quero fugir, quero fugir de mim mesma, da voz na minha cabeça que me diz como devia ser, o que devia fazer e como falho a cada dia, a cada hora.
Sonho. E reprimo-me por sonhar. Não devia já saber que nada que imagino hoje se realiza amanhã?
Quero correr, correr para bem longe de mim, desta pessoa perdida que agora sou, sem rumo nem foco, cansada e angustiada a cada dia, a cada hora.
Sinto-me só, como nunca antes me senti, e a tristeza parece ser a minha mais fiel companheira de viagem.
Sinto-me única, como nunca antes me senti, e perco as ilusões de que alguém me compreenda, que alguém pertença à mesma margem.
Sinto que vivo num paradoxo, entre querer ser vista e desejar arduamente não o ser, entre sentir-me abandonada pelo mundo, esquecida por Deus e a vida, e ansiar desesperadamente que nenhum deles se aperceba de mim.
Estou louca? Esquizofrénica? Psicótica?
Ou será que sou simplesmente adolescente?