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Ensinar os filhos a respeitar os mais velhos. Porquê?

Certamente que eu quero que a minha filha respeite os mais velhos. E sem dúvida que a maioria das vezes o desejava para ontem, de forma a evitar-me momentos de embaraço e vergonha. Mas mais importante do que tudo quero que seja o que for que ela faz o faça espontaneamente, porque para ela faz sentido, porque para ela é instintivo, nunca por medo ou necessidade de agradar.

 

Vivemos numa sociedade e cultura que preconiza que se respeite os mais velhos. A mim faz-me sentido. Só me apetece perguntar: porque não a todos? Porque só os idosos?

Pode parecer uma questão estúpida e redundante, mas acreditem que não o é.

Cresci a escutar: “Para, cala-te, levanta-te, cumprimenta, respeita os mais velhos”.

Vejo imensos pais, eu muitas vezes incluída, a grunhir para os filhos a frase “tens que aprender a respeitar os mais velhos”.

E eu pergunto: Quem respeita os mais novos? Quem respeita a criança a quem se lhe diz “esse teu brinquedo agora é meu” quando ela ainda não é capaz de perceber a subtileza da brincadeira?

Quem respeita a timidez natural e saudável de um ser humano em desenvolvimento quando se o obriga a dar um beijo que ele não quer dar?

Quem respeita o tempo da criança quando a obrigamos a correr e despachar-se para cumprirmos as exigências de uma sociedade que vive à velocidade da luz?

Se a um adulto dói a cabeça porque teve um dia mau, a criança tem que estar sossegada, respeitar os mais velhos e os seus problemas.

Se a uma criança faz uma birra descomunal porque teve um dia mau, porque não respeitá-la também? Porque não perceber o que ela precisa (que é bem diferente de dar-lhe o que ela pede e que de igual forma não é uma lição de disciplina no momento) e exigi-lo dos mais velhos como o exigimos dos mais novos?

Como ensinar os filhos a respeitar os mais velhos?

Certamente que eu quero que a minha filha respeite os mais velhos. E sem dúvida que a maioria das vezes o desejava para ontem, de forma a evitar-me momentos de embaraço e vergonha.

Mas mais importante do que tudo quero que seja o que for que ela faz o faça espontaneamente, porque para ela faz sentido, porque para ela é instintivo, nunca por medo ou necessidade de agradar.

Por isso não ensino a minha filha a respeitar os mais velhos. Da mesma forma que não a ensino a partilhar, ser empática ou dizer “por favor” e “obrigada”.

No entanto, a minha princesa partilha, é empática e educada tanto quanto seria de esperar de uma criança de 5 anos.

 

E respeita os mais velhos? Respeita-se primeiro a ela, como manda o princípio da ortogénese. E na verdade nunca a vi desrespeitar ninguém que a não tivesse desrespeitado primeiro.

A minha filha trata os outros da mesma forma como é tratada pelos pais e outros vínculos.

É assim que as crianças aprendam. Pela lei do exemplo. Observando como os pais e restantes vínculos tratam os outros e principalmente assimilando a forma como são tratadas.

Mas mesmo assim é preciso tempo. Tempo para a natureza fazer o seu trabalho, tempo para a criança desenvolver os seus potenciais humanos. E para isso são precisas 2 décadas.

Por isso, quando alguém me pergunta “Como ensino o meu filho a respeitar os mais velhos?” eu costumo responder com as seguintes perguntas:

Esses mais velhos que quer que o seu filho respeite, respeitam-no a ele primeiro?

O seu filho sente que é respeitado e validado, independentemente da sua imaturidade?

O respeito que espera que ele tenha é adequado à idade?

Se sente que o seu filho tem que aprender a respeitar os mais velhos, das duas uma:

Ou pretende que ele ao comportar-se assim o/a faça sentir bom/boa mãe, capaz de o educar eficazmente. E isso é dotá-lo de um poder demasiado grande para qualquer filho: o poder de ter que fazer os pais sentirem-se felizes, capazes, competentes, confiantes… A maldição dos eternos imaturos.

Ou não está consciente das capacidades reais de cada idade, fruto de ter crescido numa sociedade que ainda vê as crianças como adultos em miniatura e não como seres humanos em desenvolvimento.

Ainda bem que as rãs não possuem cérebro pensante, ou um dia destes estaríamos a ver mães rãs a querer ensinar os seus filhos girinos a saltar a qualquer custo, independentemente da sua capacidade real ou não para o fazerem e sem qualquer fé que tudo na natureza sem o seu timing e nenhum girino permanece girino para sempre.

Mas crianças imaturas podem ficar presas a essa imaturidade toda a sua vida por tanto que os pais as quiserem ensinar antes do tempo.

 

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