
Remendos e Resiliência
Por vezes penso que vou passar uma vida inteira a pregar remendos, de forma a tapar e embelezar os buracos que constantemente crio. Hoje remendo os erros de ontem e amanhã remendarei os de hoje. E assim será até ao fim dos meus dias.
Não me parece justo. Não devia ser assim.
E o que mais me custa é que agora eu estou consciente dos erros quando os cometo. Eu consigo perceber que não é assim que devia agir. Não é desta forma que eu quero ser. Mas ter perceção é tudo o que eu consigo fazer. Não consigo operar de outra forma, mesmo quando algo grita no meu interior “não, não vás por aí, sê diferente”.
É excruciante. Saber quem quero ser, o que quero fazer e simplesmente continuar como antes. Faz-me desejar ter permanecido na inconsciência, nunca ter avançado, nunca ter acordado.
E depois recordo-me que já estive aqui, conheço este lugar, já passei por ele antes. E consegui ultrapassar.
E com o tempo começo a perceber que é assim que deve ser, que nada está fora do lugar, que finalmente sei dançar.
E enfim compreendo de que realmente é feita a resiliência.
Escolho continuar a caminhar. Escolho para sempre remendar.
Não é fácil, não é linear, não é nada confortável.
Pico os dedos, corto a pele e esfolo os joelhos enquanto coso e caminho. E muitas vezes perco a visão e caio redonda no chão.
E grito sem parar “não é justo, não é assim que devia ser”.
Mas agora sei que o único pedaço fora do lugar é o tempo da minha aprendizagem, da minha integração, do crescimento da minha resiliência.
Mas como nunca é tarde para viver, escolho continuar a dançar.
Sei que um dia vou remendar por prazer e não por necessidade, vou remendar porque é moda e não porque há algo estragado.
Nesse dia serei gentil, meiga com quem sou e desejo não ser. Nesse dia continuarei a falhar e a dar pontos fora do lugar. Nesse dia serei igual ao que hoje sou. E serei completamente diferente, pois oferecer-me-ei amor incondicional.
E então pergunto: Porquê esperar?
Porque tudo tem o seu tempo, o seu lugar. Toda a criança quer ser adulta, quer crescer, quer ser dona do seu viver.
Mal seria se assim não fosse, se o infante não ansiasse por maturar.
Então que está errado com o agora? Nada, absolutamente nada.
Por vezes penso que vou passar uma vida inteira a pregar remendos, de forma a tapar e embelezar os buracos que constantemente crio. Hoje remendo os erros de ontem e amanhã remendarei os de hoje. E assim será até ao fim dos meus dias.
E está tudo bem porque é este hoje o meu lugar!