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Mãe, não me consegues proteger sem o papá

A minha filha nasceu do trauma, com trauma e para o trauma. Eu não estava lá, física e/ou emocionalmente, durante a gravidez, o parto e grande parte do seu primeiro ano e meio de vida. Ela não acreditava na minha continuidade, na minha capacidade de cuidar dela, no meu poder em a proteger.

 

Desde os 10 meses que a minha princesa dorme na minha cama. Gostaria de dizer que foi uma decisão de mãe consciente. Mas foi apenas o resultado de um ato de desespero, uma desistência do que devia ser em favor do que conseguia deixar-me dormir.

Mas com o tempo, o estudo e o reencontrar dos meus instintos, descobri que foi um dos meus melhores momentos de maternidade.

A minha filha nasceu do trauma, com trauma e para o trauma. Eu não estava lá, física e/ou emocionalmente, durante a gravidez, o parto e grande parte do seu primeiro ano e meio de vida. Ela não acreditava na minha continuidade, na minha capacidade de cuidar dela, no meu poder em a proteger.

Apenas com 2 anos ela deixou-o bem claro, não fosse eu ainda ter dúvidas ou descarrilar do caminho que então escolhera percorrer.

Depois de eu lhe assegurar que não tinha que ter medo de algo que já nem me lembro o quê, que eu estava ali para não deixar nada de mal lhe acontecer, que eu era capaz de a proteger, ela respondeu-me “Não, não és. Sem o papá não consegues!”

Foi literalmente um daqueles momentos de “toma e embrulha”, de “o feitiço vira-se contra o feiticeiro”. Mensagem recebida.

 

Se queria que ela acreditasse em mim estava na hora de alterar a ideia que passava ao fim de semana.

Reclamar com o meu marido que tinha que fazer tudo sozinha e que era demasiado para mim, tentar que ele me ajudasse mais através da explanação contínua e detalhada de como me era difícil gerir tudo sem a ajuda que acreditava merecer, não só não me estava a levar a lado nenhum na minha relação como ainda estava a minar a imagem da mãe que eu pretendia ser.

Foi claro este pensamento: “Se queres que ela acredite em ti tens que o demonstrar e não apenas afirmar, tens que dar conta do recado sozinha, mesmo que penses que não é assim que deve ser.”

E assim optei por o fazer.

Fotografia de Rodrigo Lima

 

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