
Não te debatas em demasia com as escolhas que fazes por Amor
Hoje canto Ed Sheeran, porque sinto que o amor é mesmo assim, um desejo de eternidade. Mas acima de tudo uma ânsia de amar e ser amado tal como somos.
Tinha eu 23 anos e na distante cidade de Toulouse puxei de um artigo que havia roubado duma qualquer sala de espera de um consultório médico. Não me recordo do título, mas ainda me lembro de muito do que lá estava escrito. Particularmente da mensagem sobre amor, que para alguém que começara a namorar poucos meses antes parecia maldição e sabedoria em simultâneo.
“Não te debatas em demasia com as escolhas que fazes por amor. Daqui a 25 anos tens 50% de hipóteses de estar divorciada ou a dançar feliz na celebração das tuas bodas de prata.”
Prestes a fazer 20 anos, duas décadas após o fim do curso e a viagem de finalistas onde conheci o homem com que ainda partilho a minha vida, recordo-me das palavras que tanto me marcaram naquele tempo. Percebo-as bem melhor do que antes. Ainda fazem sentido. Ainda são pérola de sabedoria e grão de maldição.
2 décadas após o início de um namoro que ninguém levava a sério, talvez nem nós mesmos, descubro que acordo apaixonada por um homem que não é mais o mesmo de há 20 anos. Nem eu a mesma mulher.
Não sei o que nos uniu e muito menos o que nos manteve juntos por entre guerras e tempestades que nos poderiam ter separado. Podia ser romântica e dizer que foi o amor, mas acredito que muitas vezes foi simples ingenuidade e até medo de escolher diferente.
Seja como for é para mim mais uma prova de como nada é preto e branco, de como tudo tem vantagens e desvantagens e de como “não te debatas demasiado com as escolhas que fazes por amor” pois até aquelas que parecem erradas quando olhas para trás podem ter sido o segredo da atual felicidade.
Amor: Uma ode à vulnerabilidade
Já não sou pretensiosa o suficiente para achar que o que ainda me une ao homem que amo foi obra do destino ou mão de Deus. Acredito mais que foi o simples acaso, uma sucessão de escolhas que correu bem nas leis da probabilidade.
Por isso mesmo afasto-me de pensar no futuro, nas bodas de ouro ou até de prata. E escolho focar-me no presente.
E no presente descubro que nunca amei como hoje amo. No presente sinto que nunca conheci tão bem aquele que se tornou no pai da minha filha, com todas as suas imperfeições, defeitos e desilusões.
Porque todo esse conhecimento implicou vulnerabilidade, minha e dele. Vulnerabilidade que não estávamos dispostos a partilhar quando nos conhecemos, vulnerabilidade que não nos atrevíamos a sentir e nem sequer sabíamos possuir.
Hoje amo essa vulnerabilidade, minha e dele. Até quando aparece tipo ouriço-cacheiro, com todos os espinhos em riste para pura proteção e precisamos de nos magoar para conseguir chegar até ao coração.
Hoje amo quem somos, sem juízos do passado nem pretensões de conhecer o futuro, o que virá.
Hoje canto Ed Sheeran, porque sinto que o amor é mesmo assim, um desejo de eternidade. Mas acima de tudo uma ânsia de amar e ser amado tal como somos, quando todas as máscaras caem, o jogo está na mesa e o nosso pior é tão visível como a pele nua no banho ou o rosto desmaquilhado pela manhã.
E para mim nada é mais valioso do que acordar de uma noite má ao lado de um homem que não tenta mascarar mais a sua vulnerabilidade e descobrir que afinal sou capaz de o amar ainda mais, como nunca amei antes, como nunca acreditei ser capaz de amar.