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Conheça qual é o verdadeiro poder das crenças limitantes

A crença de que eu não sou verdadeiramente amada costumava ser bastante limitante na minha relação com o meu marido, provocando grandes sentimentos de insegurança, solidão, incompreensão e, logicamente, discussões desnecessárias e improdutivas.

 

As crenças limitantes dão cartas no jogo que é a nossa vida, sem qualquer consideração pelos nossos desejos e vontades, e fazem-nos sentir que o nosso dia-a-dia é, inúmeras vezes, escrito pelo nosso maior inimigo.

As crenças limitantes controlam praticamente todas as áreas da nossa existência, ditam as regras do que sentimos e do que fazemos e querem-nos fazer crer que definem quem somos. E a verdade é que definem, pelo menos enquanto não estamos conscientes delas.

Mas o que são, afinal, as crenças limitantes? São pensamentos angustiantes e incapacitantes, quase sempre 100 por cento errados, que temos como verdades absolutas e que influenciam todas as nossas decisões. A força do seu poder reside no facto de estes pensamentos limitadores, transformados em crenças, não ocorrerem ao nível do consciente mas sim do subconsciente, o que significa que a grande maioria das vezes, para não dizer sempre, nós não fazemos a mínima ideia da sua existência.

Uma das crenças limitantes com que me tenho deparado mais amiúde entre as pessoas com quem lido, e com a qual me debato também, é a crença de que não sou “verdadeiramente amado/a”.

Como pode, então, esta verdade absoluta presente no nosso subconsciente governar a nossa vida? Falemos no feminino. Quando pedimos, por exemplo, ao nosso companheiro se aspira a casa e ele diz que “agora não” ou, então, não o faz com a perfeição que nós desejávamos, quantas de nós não nos passamos logo ali, reclamando que não podemos contar com ele para nada, que temos de ser nós a fazer tudo, que não somos criadas de ninguém e que se ele ajudasse um pouco não fazia mais do que a sua obrigação.

Eu certamente que já, eu levanto a minha mão. E antes desta explosão de sentimentos e acusações, quantas de nós pararam para perceber a razão de tal recusa ou trabalho menos bem feito? Ou melhor, por que carga de água é que um “agora não” ou uma aspiração menos perfeita é por nós sentida como um ataque tão pessoal, como se o nosso companheiro acabasse de nos comunicar que já não gosta de nós?

Não poderá ele estar extremamente cansado, não quererá ele apenas terminar o que estava a fazer antes de nos ajudar, não estará para ele a casa genuinamente bem aspirada? Não, nada disso nos passa pela cabeça no imediato.

Após uma reflexão mais profunda podemos aperceber-nos de qualquer um destes fatores é perfeitamente viável e certamente o mais provável, mas na hora H, quando experienciamos a situação em primeira mão, tudo o que sentimos é revolta, raiva e uma enorme necessidade de atacar. Porquê?

Porque é o nosso subconsciente que está a comandar as operações e a premissa em cima da mesa é que “se ele realmente me amasse fazia tudo o que pudesse para me ajudar e agradar”. O que se traduz em “eu não sou verdadeiramente amada, tal como o comportamento dele acabou de demonstrar”, ou, simplesmente, “eu não sou verdadeiramente amada”.

E isto aplica-se no feminino e no masculino, com o nosso cônjuge, os nossos filhos, os nossos amigos e até com os nossos colegas de trabalho. Sentimos-nos constantemente sozinhos, negligenciados, injustiçados e não fazemos a mínima ideia que por de trás dessa força negativa que comanda a nossa vida está apenas uma crença limitante, um pensamento completamente errado mas que o nosso subconsciente interiorizou como sendo uma verdade absoluta: “eu não sou verdadeiramente amado/a”.

Como se formam as crenças limitantes

Agora que já abrimos a cortina para o poder das crenças limitantes, tentemos perceber de onde é que elas vêm e como é que elas se formam. A grande maioria das crenças limitantes que governam o nosso dia-a-dia teve a sua origem na nossa infância.

Se bem que uma crença limitante se possa formar em qualquer altura da nossa vida, quanto mais andamos para trás nos anos maior a nossa suscetibilidade ao seu aparecimento.

Podemos, inclusive, definir como período crítico a idade que vai do nascimento até aos 6/7 anos, altura em que grande parte das nossas ligações neurológicas já estão formadas e passam a ajudar-nos a avaliar “nós e as nossas circunstâncias” pelos nossos próprios olhos.

Antes desse período o nosso cérebro está programado para aprender com os outros como é o mundo, particularmente com aqueles a quem estamos mais fortemente vinculados.

Imaginemos uma criança de 2 anos. Como é que ela perceciona o mundo à sua volta, como é que ela distingue o que é perigoso do que é seguro, o que é certo do que é errado, o que é aceitável do que é inaceitável? Pelos olhos dos pais, pelo comportamento daqueles que aceita como seus cuidadores. Por isso é que os filhos geralmente adquirem os medos dos pais, os maneirismos dos pais, a linguagem dos pais. É a natureza no seu melhor.

Pensemos, por exemplo, no medo às cobras. Se uma criança só adquirisse um certo temor a estes répteis após uma má experiência pessoal, certamente que não teriam sobrado muitos humanos no tempo das cavernas para nos terem agora como descendentes.

A criança funciona como uma espécie de recetor dos sentimentos dos pais, e quando estes se mostram receosos perante cobras, a criança recebe a mensagem: as cobras são perigosas e há que temê-las. Mas como é que isto pode levar às crenças limitantes? Como é que pensamentos errados se podem tornar verdades absolutas num período em que os pais é que ditam as regras e só querem o melhor para os filhos?

 

Simples, por dois mecanismos diferentes. Em primeiro lugar, nós adquirimos as crenças limitantes dos nossos cuidadores, tal como adquirimos os seus medos. E em segundo lugar, a maneira tradicional e habitual de se criar os filhos, a forma como quase todos nós fomos educados, é um meio extremamente propício ao aparecimento de tais pensamentos e verdades.

Voltemos ao exemplo da crença “não sou verdadeiramente amado/a”. Um pai ou uma mãe que sente que não é verdadeiramente amado vai, instintivamente e incessantemente, procurar esse amor nos filhos e sempre que estes lhe respondam torto, não façam o que lhes pede ou pareçam preferir a companhia de outra pessoa, o seu medo de não ser amado vai transparecer em todas as suas reações e vai ser percecionado e interiorizado pelos filhos, tal como o medo às cobras.

Imaginemos uma criança de 2 anos e meio, em plena fase de desenvolvimento da sua autonomia e da descoberta do “eu separado de ti”, a dizer a uma mãe “não gosto de ti”. Se bem que esta afirmação seja perfeitamente adequada e saudável na idade desta criança, uma mãe com a crença de que não é verdadeiramente amada vai sentir-se ameaçada, como se estivesse a perder o amor do filho, e a criança vai percepcionar, registar, guardar e utilizar esse sentimento na circunstância apropriada (quando for pai/mãe).

Analisemos agora a mesma criança com uma outra mãe. Esta mãe não tem a crença limitante de não ser verdadeiramente amada e não se assusta com a afirmação do filho “não gosto de ti”. Até lhe acha uma certa piada e deixa passar, pelo menos da primeira vez. Mas quando a criança continua a repetir a mesma frase e/ou a associá-la a outros comportamentos percecionados como menos corretos, esta mãe, que segue a forma tradicional de educar, começa a sentir medo que o seu filho se vá transformar num mal-educado e sente-se na obrigação de o ensinar, de corrigir o seu comportamento desafiante. Como é que o faz?

Respondendo de volta “isso não se diz, é feio, fico muito triste quando dizes isso”. Ora a criança, que ainda não sabe diferenciar quem é do que faz, entende isto como “és feio, magoaste-me muito, decepcionaste-me”. E como a mesma criança não sabe, igualmente, distinguir as emoções dos comportamentos e não é capaz de controlar o que sente, conclui: “não sei comportar-me bem, sou uma desilusão, a minha mãe não gosta de mim quando sou assim, não sou amado como sou. Não sou verdadeiramente amado”. E como tudo isto se passa a nível do subconsciente é lá que fica armazenada a conclusão errada, passando a verdade absoluta e a crença limitativa. Assustadoramente simples.

Como lidar com as crenças limitantes

As crenças limitantes são muito mais fáceis de criar do que de eliminar. Por isso é que a prevenção é o melhor remédio. Mas por muito bem que eduquemos os nossos filhos nunca vamos ser perfeitos, nem tal é desejável, e vão sempre formar-se ao nível do subconsciente verdades absolutas, erradas e restritivas do nosso comportamento. A questão agora é: como é que podemos alterar as nossas crenças limitantes, como é que podemos substituí-las por crenças positivas e passíveis de trabalhar a nosso favor?

Como tudo na vida é um processo. Em primeiro lugar, e talvez o mais importante, é necessário que tenhamos consciência delas. Passemos a observar o nosso comportamento como se fôssemos um observador externo. Quando nos apercebermos de que a nossa reação não está bem adequada à situação ou que estamos a perder o controlo paremos para pensar: “hum, o que se passa aqui, a que é que eu estou a reagir exatamente, que pensamento é que está a comandar as minhas atitudes?”.

Mais fácil dito do que feito, mas não impossível e bem mais acessível com a prática. De seguida é essencial oferecer empatia a nós mesmos e às nossas emoções. Normalmente tentamos reprimir os sentimentos negativos e culpamo-nos quando não o conseguimos realizar, mas o truque é exatamente o oposto. A chave do sucesso para que uma crença limitante comece a perder poder é permitirmo-nos sentir o que estamos a sentir e oferecer-nos empatia, compaixão, enquanto o fazemos.

Quando somos capazes de perceber que o que estamos a experienciar é uma reminiscência do passado, não a realidade do presente, e que não há qualquer problema em senti-lo, a crença limitante passa a não ser assim tão limitante e torna-se passível de ser alterada.

A meditação e a terapia podem ajudar imenso na mudança de uma crença limitante para uma crença poderosa, podem acelerar o processo tremendamente, principalmente quando atuam ao nível da nossa energia molecular. Mas não são obrigatórios. O essencial, a trave mestra do processo, é mesmo o reconhecimento do que realmente se passa, a oferta de empatia a nós mesmos, a compreensão de que o que sentimos é apenas o que sentimos e não quem somos e a abertura para a criação de uma nova crença, adequada à realidade presente e capaz de nos dar poder em vez de o retirar.

A crença de que eu não sou verdadeiramente amada costumava ser bastante limitante na minha relação com o meu marido, provocando grandes sentimentos de insegurança, solidão, incompreensão e, logicamente, discussões desnecessárias e improdutivas.

A partir do momento em que fui capaz de a identificar e aceitar como parte do meu passado, comecei a ver as ações do meu parceiro sob um novo prisma e elas deixaram de parecer tão ameaçadoras.

Comecei a percepcionar o comportamento dele de outra forma e a perceber a minha responsabilidade em muito do que ele fazia e dizia. E a nossa relação começou a mudar. No passado eu atacava, muitas vezes conscientemente mas deveras mais sem dar por isso, e ele defendia-se, geralmente contra-atacando.

No presente compreendo-me muito melhor e, consequentemente, compreendo-o melhor. No presente sou muito mais capaz de lhe oferecer empatia, e ele oferece-ma de volta. É o descobrir de uma nova relação, mas dentro da relação antiga. É um começar de novo mas sem mudar os protagonistas.

Já diz o provérbio “o que não nos mata torna-nos mais fortes”. Quando conseguimos conquistar uma crença limitante conseguimos despir-mo-nos dela e o nosso verdadeiro eu torna-se muito mais visível.

E que bonito que ele é!

 

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