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A importância de pedir ajuda e apoio: Lean On Me

Quando a minha prima voltou a precisar de um apoio, nem parei para pensar, fi-lo por puro instinto, numa ligação de almas que tinha começado em criança e nada nem ninguém há-de quebrar.

 

Para mim, ouvir música sempre foi muito mais do que unicamente desfrutar da sua melodia. Para mim, escutar uma canção é viver uma vida, ou pelo menos uma parte dela. Para mim, ouvir música é escutar a sua letra e nela reencontrar os meus sonhos, o meu passado, a minha esperança, a minha desilusão. É viver de novo ou simplesmente pela primeira vez.

Esta semana, num dos meus grupos online de parentalidade, reencontrei uma paixão antiga: “Lean On Me” de Bill Withers.

Hoje decidi começar o meu dia embalada pelo seu som. Tinha acabado de me levantar. Precisei de me sentar de novo. As pernas falhavam-me e as lágrimas corriam-me pelo rosto.

Chorei copiosa e compulsivamente. Chorei de raiva, de desilusão, de tristeza. Chorei o verdadeiro choro do luto. Mas mais do que tudo, eclipsando todo e qualquer outro sentimento, chorei de gratidão.

Estávamos nos primeiros dias de 2013. No rádio escutava-se uma versão atualizada de “Lean On Me”. A minha prima debatia-se com a vida… e com a sua capacidade de pedir ajuda. Enviei-lhe um link desta música e lembro-me claramente de escrever:

“Lean on me, when you’re not strong
And I’ll be your friend
I’ll help you carry on
For it won’t be long
‘Til I’m gonna need
Somebody to lean on”

E assim aconteceu. Num piscar de olhos passou um ano e estávamos agora no início de 2014. Sentada num cadeirão da sala de Neonatologia telefonei-lhe, lavada em lágrimas. Estava tão sufocada que nem conseguia falar.

Desliguei a chamada sem dizer nada e preguei-lhe um susto de morte. Há uma semana que era mãe, e há uma semana que sentia viver um pesadelo. Agora, naquela sala que se havia tornado a minha casa recebia a notícia que a minha princesa de apenas 1, 800 Kg havia perdido 50 gramas.

Na noite anterior o meu marido tinha partido para Lisboa e só voltaria daí a uma semana. Sentia-me sozinha, perdida, a sufocar.

 

Quando finalmente consegui falar com ela percebi que também eu tinha problemas em pedir ajuda: “Por favor, posso ir a tua casa tomar banho? O chuveiro daqui é um cubículo tão pequeno que me sinto a sufocar e morrer lá dentro.”

Caminhamos juntas para casa dela, e eu literalmente apoiei o meu peso no seu. Ajudou-me com o banho, e enquanto a sua água lavava as minhas recém-feridas e nódoas negras, o seu carinho e compreensão acolhiam as minhas lágrimas e lavavam a minha alma então negra de dor.

Voltamos para o hospital e lembro-me de precisar de parar e apoiar-me nela para respirar numa dor física que ia e vinha. Pensava que era normal, pensava que fazia parte das mazelas do parto. Não cheguei a voltar a casa dela para novo banho pois no dia seguinte fiquei internada de novo e precisei de voltar ao bloco cirúrgico.

Todos os fins de tarde ela me visitava. E eu chorava e desabafava. Todos os fins de tarde ela me visitava, e era esse o ponto mais alto do meu dia.

Por isso, quando recomposta e uns anos mais para a frente ela voltou a precisar de um apoio, nem parei para pensar, fi-lo por puro instinto, numa ligação de almas que tinha começado em criança e nada nem ninguém há-de quebrar.

Hoje crescemos fortes, ela e eu. Vidas separadas, mas sempre uma canção, um convite, uma ligação de almas nos momentos de necessidade.

E hoje, anos passados, voltei a escutar esta canção. E chorei de gratidão. Porque a vida pode ser madrasta e cruel, mas enquanto tivermos pessoas em quem nos apoiar nada é verdadeiramente invencível.

 

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