
Os Pais e a Escola
Hoje quero vos falar de um assunto que incomoda muitos pais: a escola.
Seja no contexto de escolher a melhor escola para os filhos ou na questão de não se concordar com as atitudes ou métodos do professor, é um assunto que me é trazido por muitos progenitores.
Como falar com os docentes? Como mudar esta ou aquela atitude? Ou até “como trazer mais consciência para a escola da minha filha no que respeita à educação consciente?”
A minha resposta é: “Quem somos nós para querer mudar o outro?”
Respondem-me “sou mãe, sou pai, é meu direito exigir o melhor para o meu filho!”
A minha pergunta: “E como te tens saído com as tuas exigências? O que mudou?”
Geralmente a resposta é que o outro lado não estava recetivo à mudança e a situação piorou em vez de melhorar. Pois bem, eu também não estaria recetiva à mudança, desculpem-me a sinceridade.
Há um instinto em todos nós, primeiramente descrito por Otto Rank e popularizado por Gordon Neufeld que se chama “Contra Vontade”. E esse instinto serve para nos proteger da influência nefasta dos estranhos. Mas a forma como a natureza humana define “estranhos” é aqueles fora do nosso contexto de vínculos, aqueles com os quais não temos estabelecida uma relação de respeito e carinho. Só no contexto de um relacionamento saudável e bem estabelecido é que podemos influenciar ou sermos influenciados por alguém. E uma das características de um relacionamento bem estabelecido e saudável é a aceitação do outro.
Percebem agora o paradoxo? Se almejamos influenciar alguém ou até criar alguma mudança na sua forma de estar ou pensar precisamos antes de tudo de o aceitar tal como é. E aceitar alguém tal como é, com todas as suas virtudes e todos os seus defeitos, implica deixar cair a ideia de o mudar.
É um belo paradoxo em que tropeçamos constantemente e cuja falta de compreensão e entendimento nos coloca em constantes quimeras destinadas ao falhanço.
Não quero, com isto, dizer que temos que aceitar tudo tal como é e nunca almejar a mudança. Não quero, com isto, partilhar a ideia de que devemos baixar os braços e não lutar pelo que é melhor para os nossos filhos. Podemos e devemos fazê-lo. Mas de outra forma. Olhando para dentro. Realizando as nossas próprias escolhas. Assumindo o nosso papel de pais.
Procuras a escola ideal para os teus filhos? Ótimo, mesmo muito bom. Mas de onde vem esse teu desejo de encontrar a escola ideal? De uma sensação de responsabilização pelo bem estar dos teus descendentes e um acolher carinhoso dessa mesma responsabilidade? Ou de um medo de não seres um progenitor suficientemente bom e precisares de ajuda na criação do teu filho?
Se é o primeiro caso, então cedo percebes que não há soluções perfeitas e que vais sempre questionar a tua escolha sem que isso implique, no entanto, que a queres mudar. E certamente que a tua escolha imperfeita será mesmo a ideal.
Se é o segundo, então por muito perfeita que a escola seja, nunca será a ideal para o teu filho. Porque essa escola representará sempre uma fuga, um escape, uma tentativa tua de te afastares da dissonância, do desconforto e da constante incerteza que fazem parte de um Pai que sabe que o segredo da criação de um filho está em sermos a resposta para ele e não em encontrarmos as respostas certas. Porque estas simplesmente não existem.
Por isso, e em conclusão, se queres a melhor escola para os teus filhos foca-te nas pessoas, nos relacionamentos e na tua responsabilidade parental.
Em termos práticos, eis os meus conselhos: escolhe a escola pelas pessoas e não pela sua filosofia, currículo ou instalações. Sem dúvida que tudo isso é importante, mas secundário à importância do papel dos seres humanos responsáveis pelos nossos filhos.
E torna-te um membro ativo da escola. Não para tentar mudá-la mas para completares em casa as falhas que lá possam existir e criares um sentido de comunidade para os teus filhos. Valoriza aqueles que os educam. Acredita que eles dão o seu melhor todos os dias, porque na verdade todos o damos, com todas as nossas limitações e imperfeições. Colabora com a escola, cria um relacionamento com os seus membros e respeita o seu trabalho. Achas que o farias melhor? Talvez. Mas nunca o saberás e não o assumas assim tão rapidamente. Ser Pai dos filhos dos outros sempre foi muito mais fácil que o ser dos nossos, lembras-te? E fazer o trabalho dos outros também parece sempre muito mais fácil que realizar o nosso. Mas o que parece não é necessariamente verdade.
A escola perfeita para os teus filhos é aquela em que escolheres envolver-te e à qual estejas disposto a oferecer o teu tempo e colaboração. Se depois perceberes que existe uma verdadeira incompatibilidade entre ti e essa escola, escolhe diferente. Simplesmente escolhe diferente, não responsabilizes os outros.
Paremos de tentar mudar o mundo e ele será mudado. Porque só na imperfeição poderemos encontrar a verdadeira perfeição!