
O que é a Ansiedade: para que serve e como combatê-la?
Bruce Tift, no seu livro “Already Free” apresenta a vivência de ansiedade como parte integrante de sermos humanos, assim como as experiências de amor, dor, felicidade ou medo.
Há já algumas décadas que assistimos a um escalar exponencial dos diagnósticos de ansiedade e do consumo de medicação para a combater. Nos meus 15 anos de trabalho como farmacêutica pude comprová-lo com os meus próprios olhos.
O que mais me chocava era a ineficácia demonstrada pelos ansiolíticos na resolução desta epidemia. Após um período inicial de relaxe e paz, os utentes procuravam-nos com o medo estampado nos olhos e exclamando sempre o mesmo: a medicação parece estar a perder o seu efeito. E estava!
Eu própria conheço bem a problemática da ansiedade a um nível pessoal. Faço parte das estatísticas de quem é refém dos seus tentáculos limitadores. Correção: fiz no passado. No presente ainda a experimento, mas já não me debilita mais.
Porquê? O que mudou para mim? Continue a ler para perceber a forma como o combate à ansiedade mudou a minha vida e pode também transformar a sua.
Também eu experimentei na pele a ineficácia da toma prolongada de ansiolíticos. Também eu tive que aumentar a dose, mudar de molécula ou acrescentar um antidepressivo aqui e ali. Também eu desesperei inúmeras vezes com o que parecia uma guerra perdida causada por um defeito de fabrico, uma herança genética cruel e extremamente debilitante.
Hoje tudo mudou porque compreendi a origem da minha ansiedade e o papel benéfico que ela pode ter na minha vida. Hoje aprendi a viver com este desconforto sem que ele me debilite e aproveitando o que de melhor ele tem para me oferecer.
Sim, porque eu acredito que tudo na vida tem vantagens e desvantagens, até a ansiedade.
A melhor resposta à ansiedade é aprendermos a relacionarmo-nos com ela
Bruce Tift, no seu livro “Already Free” apresenta a vivência de ansiedade como parte integrante de sermos humanos, assim como as experiências de amor, dor, felicidade ou medo.
Segundo este prestigiado terapeuta e autor americano, a ansiedade possui um papel bem benéfico: preparar-nos para enfrentar situações futuras de perigo, como um treino antes do jogo definitivo.
Ansiedade e medo são experiências diferentes. Sentimos medo perante um perigo real, em tempo real, e este sentimento leva-nos a agir de forma a garantirmos a nossa sobrevivência.
Sentimos ansiedade perante uma ameaça hipotética, num tempo que não é o agora. Pelo que a sua função não é protegermo-nos no momento mas treinar-nos para responder a ameaças futuras.
Esta função da ansiedade foi muito importante e assegurou a nossa sobrevivência como espécie num tempo passado em que a nossa vida estava constantemente em risco, perante a existência de predadores ou plantas venenosas, entre outras ameaças.
No presente, os seres humanos experienciam a vida muito para além dos níveis biológicos de sobrevivência. Vivenciamos experiências de cariz emocional, cognitivo, social e até espiritual. Mas quando o distúrbio da ansiedade surge em qualquer um destes campos, reagimos a ele como se a estivéssemos no campo físico, em modo de sobrevivência.
Raramente paramos para analisar a nossa ansiedade e questionarmos a sua veracidade. Não é tentar argumentar com ela, prová-la falsa ou eliminá-la pela lógica. É simplesmente acolher a sua existência como parte de sermos humanos, experimentarmos as sensações que ela nos causa para que assim cumpra sua função e questionarmos: estou mesmo em perigo neste momento?
A minha vida está em risco no instante presente, no segundo em que vivo?
Quase sempre a resposta é não. A nossa mente racional pode argumentar que daí a meia hora, um dia ou uma semana poderemos estar sob ameaça, perante um resultado indesejável de uma autopsia ou um possível divórcio.
Mas o truque é voltarmos a trazer a consciência para o momento presente. Neste instante, neste segundo, nesta fração de tempo que é o único presente realmente existente, estou em perigo? Vou ficar sem chão agora mesmo?
Não. Neste preciso momento eu estou seguro/a e posso relaxar.
Por tudo isto, podemos concluir que sentir ansiedade não é uma escolha.
Como tal, livrarmo-nos dela é uma utopia, um desejo de crianças que ainda acreditam em magia. A opção que temos é outra: a de escolher como queremos relacionar-nos com ela.
A forma como nos relacionamos com a nossa própria ansiedade é uma opção que determina se ela se transforma na nossa carcere, fazendo de nós prisioneiros de um medo que nos impede de viver em pleno.
Ou se, pelo contrário, é apenas numa companheira de viagem um pouco incómoda mas desejável porque nos alerta constantemente para os perigos da vida e do mundo. Sendo que é da nossa exclusiva responsabilidade determinar a sua validade e veracidade no momento presente.