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Porque é que o meu filho faz birra? Entenda agora!

As birras são tentativas de comunicação e/ou saciação de necessidades. Conscientes ou inconscientes, as birras são simplesmente isto: uma necessidade sentida e uma tentativa de a comunicar.

 

As birras dos filhos são geralmente uma fonte de grande incómodo e dor de cabeça para os pais. Como tal, constituem um dos aspetos da parentalidade que mais leva um progenitor a pedir ajuda.

Geralmente queremos saber o que fazer para parar as birras dos nossos filhos ou, idealmente, como conseguir que eles nunca mais protagonizem uma. Mas como podemos tentar controlar algo que não conhecemos? Algo cuja origem nos é um mistério? É como tentar lidar com uma inundação em casa sem tentar perceber o que a causou, de onde vem tanta água.

Por isso, se se debate com birras por parte dos seus filhos e não sabe o que fazer para lidar com elas, comece por aqui, por perceber quais os alicerces de tal comportamento. Porque é que o seu filho fez birra?

Compreenda o que leva o seu filho a fazer uma birra e descubra como lidar com ela

As birras são tentativas de comunicação e/ou saciação de necessidades. Conscientes ou inconscientes, as birras são simplesmente isto: uma necessidade sentida e uma tentativa de a comunicar.

Quando precisamos de algo e não somos capazes de o dar a nós próprios, temos que pedir a outro para cuidar de nós. É o que se passa com os bebés quando têm fome.

Choram para o comunicar. Na realidade o choro, que tantas vezes incomoda os pais, já é um tipo de comunicação tardia. Antes do choro o bebé dá outros sinais de fome, como abrir e fechar a boca, mexer a cabeça de um lado para o outro e tentar mamar nas próprias mãos.

Mas os pais nem sempre vêm ou sabem interpretar estes sinais. O bebé muda então de linguagem de comunicação. Intensifica-a e usa algo mais chamativo, mais difícil de ignorar, mais incómodo para quem o escuta pelo que sente a urgência de dar ao infante o que ele precisa para assim terminar o choro.

A maioria de nós, eu incluída, não chamaria ao choro de um bebé uma birra. Mas uma das razões para que isso aconteça é que percebemos o seu significado e considerámo-lo válido.

Mas o que é que acontece quando uma criança de 2 anos morde outra para lhe roubar o brinquedo? Ou quando um filho de 4 anos faz uma birra no supermercado porque acabou de escutar um não?

Vemos uma birra e queremos aprender a terminar com ela e a impedir que se volte a repetir.

Na realidade o que nós vemos é um comportamento que nos faz sentir extremamente desconfortáveis e nos inunda com emoções e pensamentos fortes: sentimos vergonha, medo da crítica, maus pais. Como tudo isso é demasiado para se sentir sem agir, usamos o que for preciso para parar o seu comportamento por nós considerado desrespeitoso, infantil, inapropriado, vergonhoso.

E quando é que paramos para pensar o que está por detrás da birra? Quantas vezes nos questionamos sobre a necessidade que os nossos filhos têm e que não está a ser satisfeita?

Não, a necessidade nunca é o que parece. A criança que morde a outra não tem por necessidade base o brinquedo que lhe estava a ser negado, assim como o infante que faz a birra no supermercado.

As necessidades são outras, bem mais profundas e inúmeras vezes difíceis de percecionar no momento: fome, cansaço acumulado, segurança, proteção, entendimento, compreensão, proteção contra estimulação exagerada.

O brinquedo negado é apenas a gota que faz transbordar o copo. As emoções que inundam a criança são demasiado fortes para serem toleradas e a criança explode, tentando conseguir o que quer custe o que custar.

Espera, mas não é isto também o que acontece com o pai ou mãe que tenta para a birra? Custe o que custar?

Geralmente, quando apresento este argumento há sempre alguém que me questiona: e quando a criança está claramente a manipular? A tentar conseguir algo usando estratégias que sabe que resultam?

Daniel Siegel define estas birras como birras originadas no cérebro posterior e em que a criança consegue parar o seu comportamento a qualquer momento. Em oposição às birras originadas no sistema límbico e em que a criança por muito que tente não consegue parar de fazer birra.

Se bem que eu compreenda esta diferença não me parece que ela deva alterar a forma como vemos uma birra: uma necessidade que está a ser comunicada pela forma como a criança acredita que será escutada.

O petiz que tenta manipular fá-lo por 2 razões:

– É inteligente. Quem não quer filhos inteligentes?

 

– Acredita que de outra forma não obterá o que pretende. Será que se ele pedir gentilmente e educadamente é escutado? Ou será como o bebé que dá sinais de fome mas só é posto à mama quando chora?

E lembrem-se: quando um comportamento é desproporcional ao que está a ser pedido é porque a necessidade básica é outra, mais funda, mais essencial, mais vulnerável. Mesmo nos casos de aparente manipulação.

Por isso, para lidar com uma birra é premente perguntar:

– O que está o meu filho a tentar-me comunicar?

– Qual a necessidade que ele têm e não está a ser satisfeita?

– Se eu olhar para além do óbvio, do pedido que está a ser feito e do comportamento que me incomoda, que vejo eu?

Se conseguir responder a essa pergunta com sucesso, as birras deixam de ser birras mas momentos de acordar e oportunidades de conhecermos melhor os nossos filhos e a nós próprios.

Só uma última partilha: Muitos pais e profissionais da área tentem a afirmar que as birras passam com a idade. Para não fazer caso ou ignorá-las. Na minha opinião elas não desaparecem, apenas mudam de forma.

Quando a criança se sente escutada, vista e compreendida, a comunicação das necessidades vai amadurecendo, conforme amadurece o indivíduo, e a birra passa a ter a forma de uma comunicação saudável e apropriada.

Mas na maioria dos casos, com os conselhos e métodos que vemos para os pais lidarem com as birras dos filhos, o que normalmente acontece é que as birras vão sendo aprumadas, ganhando contornos mais socialmente aceites. Mas não menos devastadores.

Vejamos, por exemplo, alguns exemplos de birras realizadas por adultos:

– Dizer sim quando se quer dizer não e acalentar sentimentos de ressentimento para com o outro por ter pedido mais do que devia.

– Assumir o papel de vítima e culpar os outros pelos seus problemas.

– Criticarmo-nos a nós próprios implacavelmente por nunca sermos capazes de atingir os nossos ideais de perfeição.

– Fazer um favor a alguém e ficar zangado quando esse alguém não reconhece ou retribui o favor.

Sei que pode parecer exagerado chamar birras a estes comportamentos. Para mim é o que são. Birras inconscientes, tal como as das crianças. Ou com algum grau de manipulação consciente. Mas sempre birras baseadas no desespero sentido de não nos sentirmos vistos, escutados, compreendidos, validados, aceites como somos e amados só porque existimos.

Mudemos de paradigma. Acabemos com o sofrimento. Comecemos pela nossa casa, pelos nossos filhos, por aqueles a quem queremos mais bem e pelos quais daríamos a vida com agrado.

 

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