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O leite materno não é suficiente: Mito ou Realidade?

A produção de leite está dependente da hormona prolactina e esta não é afetada por qualquer stress, desgosto ou susto que a mulher possa sofrer.

 

Na sociedade e cultura ocidentais muitas mães deixam de amamentar por acreditar que o seu leite materno não é suficiente.

Qualquer Conselheira de Aleitamento materno, Consultora de Lactação ou outra profissional que se dedique a apoiar a amamentação sabe o quão difícil é combater esta crença errónea.

Deparamo-nos com mães que juram a pés juntos que foi isso que lhes aconteceu, que o seu leite não era suficiente, ou viram acontecer a uma irmã, amiga, colega, prima, cunhada, etc…

O grande problema do mito de que uma mãe pode não produzir leite suficiente para o seu bebé ou bebés é que é uma profecia que se autoconcretiza. Continue a ler para perceber porquê.

O leite materno não é suficiente: uma profecia que se autoconcretiza

O sociólogo Robert Merton define uma profecia que se autoconcretiza como uma situação em que “uma definição falsa, como ponto de partida, suscita um novo comportamento que faz com que a conceção falsa inicial venha a tornar-se verdadeira.”

Vejamos como isso se aplica ao aleitamento materno, mais precisamente há situação falsa em que uma mãe acredita não ter leite suficiente:

A produção de leite está dependente da hormona prolactina e esta não é afetada por qualquer stress, desgosto ou susto que a mulher possa sofrer.

O que acontece com o medo e a preocupação é que podem inibir temporariamente o reflexo de ejeção do leite, ou seja, o começo da sua saída no início de cada mamada. Tal pode ocorrer por 2 mecanismos: a inibição direta do reflexo condicionado de produção de oxitocina e o efeito antagónico da adrenalina.

Acredita-se que esta inibição da saída constitui um mecanismo adaptativo que remonta aos tempos da pré-história e também presente nos outros mamíferos: quando a fêmea tem de fugir o leite deixa de sair pois caso contrário iria deixar um rasto fácil de ser seguido pelos predadores.

A produção do leite continua intacta, só há uma inibição temporária da sua saída.

 

Imaginemos agora uma mulher que leva o seu filho ao peito sentindo medo de não ter leite suficiente para ele e de o estar a fazer passar fome. Há um condicionamento temporário do reflexo da oxitocina e um aumento da produção de adrenalina.

Consequentemente, o leite demora mais a sair, apesar de a sua produção estar perfeitamente funcional e adaptada às necessidades do bebé. O bebé irrita-se com este atraso e começa a protestar, chorando e largando a mama, parecendo rejeitá-la.

A mãe, condicionada pelos seus medos, interpreta estes comportamentos como um protesto quanto à falta de leite, não conseguindo distinguir entre a falta de leite temporária, de alguns minutos, por haver um atraso na sua saída e uma falta real de leite por não ocorrer a sua produção.

Com medo de estar a fazer o seu bebé passar fome dá-lhe suplemento, ou seja, leite artificial. Ao beber leite artificial o bebé não vai extrair esse leite da maminha da mãe.

A produção de leite materno é um sistema dinâmico que se adapta constantemente às necessidades do bebé. Se o bebé bebe menos leite o corpo materno interpreta isso como uma menor necessidade de leite pela parte do infante (não consegue perceber que ele bebeu leite artificial) e diminui a produção.

Quanto mais vezes isto acontece, quando mais leite artificial o bebé bebe menos leite materno é produzido.

E assim temos uma profecia que se autoconcretiza, tal como Robert Merton descreve.

O medo, o stress, a preocupação não fazem diminuir o leite materno. Nenhum desgosto seca o leite da mãe, como muitas vezes escutamos dizer. É o biberon (sinónimo da introdução de leite artificial) e só o biberon que fazem realmente a mãe começar a não ter leite suficiente.

 

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