
Verdade da Vida: Porque quem ama tem medo de perder
Nenhuma gestante deveria ter que proteger os outros de não saberem lidar com a sua dor, proteger uma cultura e sociedade que considera os filhos por nascer como não existentes e as mães que choram a sua perda como fracas e incómodas.
Este texto é para todos os pais e mães que possuem estrelas no céu: Filhos que nos foram roubados mesmo antes de os conhecermos. Porque um dia tivemos medo de perder. E perdemos.
A frase “Não digas a ninguém que estás grávida antes dos 3 meses, não vá acontecer alguma coisa!” é passada de mão em mão como se fosse um dogma inquestionável. E a gestante, desprevenida ou já queimada por uma perda anterior, cumpre rigorosamente a ordem que lhe foi dada, não vá o karma querer fazer das suas e atrair a má sorte.
A mim custou-me um rio de suor não contar, manter segredo. Para depois ter que abrir o jogo quando mais doeu, quando tudo corria mal e não podia mais esconder o que se passava.
Ainda assim considero-me uma abençoada por não ter conseguido esconder a perda de um bebé in útero pois neste momento considero isso uma violência para a mulher.
Nenhuma gestante deveria ter que esconder uma gravidez por medo de perder o bebé, independentemente de as estatísticas demonstrarem o quão grande é essa possibilidade durante o primeiro trimestre.
Nenhuma gestante deveria ter que proteger os outros de não saberem lidar com a sua dor, proteger uma cultura e sociedade que considera os filhos por nascer como não existentes e as mães que choram a sua perda como fracas e incómodas.

Prefere ter medo de perder ou medo de amar?
Como é que é possível uma mulher engravidar, pelo menos numa gestação desejada, e não amar o filho ou filha desde o momento da concepção?
Acham mesmo que ser realista é reprimir o desejo de se sentir mãe desde o primeiro dia por medo de que aquele bebé não vingue?
Eu caí na armadilha, eu acreditei que nada devia sentir por uma criança que nunca fora verdadeiramente humana. Afinal a minha bebé nem cérebro tinha!
Mas estava errada querida filha, estava errada minha flor, minha doce Ana Margarida.
Com cérebro ou sem cérebro, tendo nascido ou escolhido partir serás para sempre minha e perfeita para toda a eternidade.
Para todo o sempre me orgulharei de ser tua mãe, porque como digo à tua irmã “amor de mãe nunca morre, mesmo quando o corpo nos abandona e alma voa para o céu”
Minha querida filha, minha estrelinha preciosa ou vento que sopra no meu rosto como se fosse um abraço teu, obrigada por me teres escolhido para tua mãe, bem hajas por teres existido.
Agora eu sei que prefiro mil vezes amar e ter medo de perder do que ter medo de amar para não sentir a dor da perda.
“Esta canção é para todos os que amam, porque quem ama tem medo de perder.”
Para sempre obrigada Pedro Abrunhosa.