
Pela minha filha cresci o que sempre tive medo de crescer
Pela minha filha encontrei-me, atrevi a seguir a minha luz interna e dei por mim a amar-me tal como sou. Mas foram muitos os demónios que tive que enfrentar. Foram muitas as vezes que me senti nua em público.
Eu costumava acreditar que era defeituosa. Costumava crer que este mundo não tinha espaço para mim. Que o meu nascer fora uma distração do acaso, um erro do universo. Que o melhor que eu tinha a fazer era manter-me bem quieta, perfeitamente escondida, não fosse alguém ver como eu realmente era e deportar-me desta vida.
Hoje eu caminho alta. Hoje eu acredito estar inteira, merecer existir, ser digna de ocupar espaço. Hoje eu atrevo-me a ser eu, com tudo o que um dia escondi, a mostrar-me tal como sou, sem máscaras, embelezamentos ou necessidade de me apagar.
Hoje eu gosto de mim assim, com virtudes e defeitos, fraquezas e fortalezas. Hoje eu não tenho mais medo de sorrir, de chorar, de amar, de não gostar.
Mas não foi fácil o caminho e escrevo-o porque quero um dia recordar onde estive, quem fui e que defesas me salvaram e posteriormente condenaram.
Quero um dia recordar os demónios que enfrentei para chegar ao outro lado, pois certamente que como a vida é uma dança e não um caminho linear, um dia poderei a estar vergada e morrendo de medo de me levantar.
O que mudou? Fui mãe.
Como ultrapassei o medo de crescer
Quando a minha filha nasceu acreditava ser eu inadequada e incapaz. A maternidade revelava-se um pesadelo e eu acreditava que a culpa não era só minha.
Sim, eu era menos capaz que todas as outras mulheres do universo. Mas vá lá, já viram bem a minha filha? Ela também não era um bebé normal, nem sequer estava lá perto!
Incrivelmente não comparava o valor da minha princesa ao meu. Éramos tão diferentes que eu não a via como defeituosa, incapaz, não merecedora de existir. Apenas como difícil, extremamente difícil e com uma personalidade incompatível com a minha.
Éramos os opostos. E havia uma razão bem certa para assim ser.
A minha filha era a minha sombra, a expressão de tudo o que eu havia renegado em mim, a soma de todos os meus bocados que eu havia deserdado para conseguir sobreviver.
A minha princesa era a encarnação de tudo o que eu considerava perigoso num ser humano. Hoje tremo a pensar no futuro que poderia ser!
Felizmente encontrei Leslie Potter e com o seu trabalho, na segurança de um dos seus grupos, comecei a reclamar peça a peça do que um dia tinha deserdado. Comecei a libertar a minha princesa do peso de carregar as minhas feridas, as minhas crenças, os meus fardos e os meus terrores. Reclamei tudo, um a um, um bocado de cada vez.
Descobri a verdade do que um dia me disse Jule Epp: “Pelos nossos filhos nós vamos onde nunca acreditamos conseguir, nós somos quem nunca cremos poder ser. Pelos nossos filhos nós enfrentamos os nossos piores demónios e até curamos os nossos traumas mais profundos. Pelos nossos filhos nós vamos onde nenhuma terapia alguma vez nos consegue fazer chegar.”
Pela minha filha cresci o que sempre tive medo de crescer. Pela minha filha saí da sombra, do esconderijo, da crença que não merecia viver.
Pela minha filha encontrei-me, atrevi a seguir a minha luz interna e dei por mim a amar-me tal como sou.
Mas foram muitos os demónios que tive que enfrentar. Foram muitas as vezes que me senti nua em público, que tive de me concentrar em respirar para não desfalecer, que cheguei a casa com vontade de vomitar, que me senti envolvida por um manto negro e sufocante de vergonha só porque me atrevia a ter voz, a ser quem desejava ser, por ela, para ela… por mim, para mim.
Hoje alguém me disse que eu a recordava de O Homem na Arena do discurso de Roosevelt e tal como apresentado por Brené Brown na sua palestra da Ted Talks.
Hoje alguém me disse que me via alta, no topo da minha vulnerabilidade, caminhando na arena da vida, consciente do que tinha a ganhar e perder, mas escolhendo ali estar porque não queria mais ficar nas bancadas, escondida, refugiada, à espera do dia em que ia ser perfeita e à prova de bala para começar a viver.
Hoje alguém me mostrou que os sonhos se tornam realidade. Pois esse alguém não sabia que o meu sonho de anos era ter a coragem de ser O Homem na Arena. Esse alguém não sabia que li e escutei Brené Brown vezes sem conta após a minha abruta queda final, o desemprego, e sonhara entre lágrimas de descrença um dia ter a coragem de entrar na arena da vida com toda a minha plenitude.
Pensei que talvez no fim da vida, nos meus anos de velhice, quando já pouco tivesse para perder me atrevesse a ser O Homem na Arena.
Mas sou mãe e pela minha filha escolhi crescer, enfrentar o inafrontável.
4 anos volvidos e chamam-me O Homem na Arena. 4 anos volvidos e sinto-me O Homem na Arena.
Hoje eu caminho alta. Hoje eu acredito estar inteira, merecer existir, ser digna de ocupar espaço. Hoje eu atrevo-me a ser eu, com tudo o que um dia escondi, a mostrar-me tal como sou, sem mascaras, embelezamentos ou necessidade de me apagar.
Hoje não almejo mais ser perfeita ou à prova de bala. Simplesmente continuar plena, em toda a minha vulnerabilidade.