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Nascida por manobra de Kristeller (testemunho)

 

Tenho medo, tenho muito medo. Pensei que conseguia fazer isto, pensei que era capaz, mas agora quero simplesmente voltar para atrás. Não me apetece nascer, não está na hora, quero esperar um pouco mais.

Mãe, onde estás? Porque me abandonas-te?

Mãe tenho medo, sinto-me apavorada. Mãe, mãe, mãe?

Oh meu Deus, oh Deus meu, estou sozinha, não há aqui ninguém. Oh meu Deus, oh Deus meu, onde raio é que me meti? Que fui eu fazer a pensar que era capaz de nascer?

Ok, ok, ok. Pensa, bebé, pensa. Fica quetinha, fica bem quetinha. Talvez isto não seja real, talvez seja só um sonho.

Não consigo, está muito apertado, não consigo, é demasiado penoso, sinto que vou sufocar.

Oh meu Deus, oh meu Deus, oh meu Deus!

Não quero mais, não quero nascer mais, não, não, não. Não gosto do que me espera, não me parece nada bom. Estou sozinha, estou completamente sozinha, quero voltar para trás, para o que conheço, para a água quente que me faz sentir segura e protegida.

Não quero sentir mais, não quero escutar mais nada, não quero conhecer nada!

Deixem-me voltar para trás, por favor, deixem-me voltar para trás!

Está aí alguém? Alguém me ouve?

Espera, espera, estou a escutar umas vozes… Vem aí alguém! Talvez seja a minha mãe!

Boa, boa, vem aí gente! Não estou sozinha! Talvez seja seguro nascer. Já só falta um bocadinho bebé, tu consegues, já só falta um bocadinho, tu és capaz. Força bebé…

O QUÊ?? Para, para, para! O quê? O que dizem eles? Vou morrer se não nascer já? Já devia ter nascido há horas? Estou em perigo??

Oh meu Deus, oh Deus meu, o que faço agora!! Tenho que nascer já?? Não sei se consigo, não sei se sou capaz!..

Ok, bebé, acalma-te. Tu consegues. Tens tempo. Respira. Tens tempo. Tu vais ser capaz…

 

Ei!! Espera!! Ei, espera, que estão vocês a fazer??

Ei, socorro, socorro, estão a empurrar-me, não, não, por favor não, vão me matar!! Parem, parem, PAREM. Estão a magoar-me, vão me matar!!

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“Aqui tem mamã, é uma linda menina!”

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Morri… Não morri… Que diferença faz?

Acho que já nasci, parecem todos muito contentes e aliviados.

Estou-me nas tintas, não vale a pena, não interessa mais.

Já percebi. Eu não sou capaz. Eu não sou suficiente.

Eu não sou suficientemente capaz, suficientemente corajosa, suficientemente forte, suficientemente hábil.

Eu não sou suficiente e eu não sou capaz.

O melhor é ficar quetinha, ser invisível e apenas fazer o que me mandam.

Sou uma fraude, não devia estar viva, não pertenço a este mundo. O melhor é manter-me bem pequena e ser uma menina perfeita. Talvez assim ninguém perceba que aqui estou sem merecer. Talvez assim ninguém perceba que nada mais sou que um simples embuste e que na realidade não devia ter nascido mas sim morrido.

Apaguei, estou fora, não quero mais!

 

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