
Mãe que reprovou na Adolescência: Pesadelo
“Quando não sabemos o que queremos, quando a nossa própria vontade ainda não se desenvolveu, a vontade dos outros sufoca-nos” explica Gordon Neufeld num dos seus cursos.
Ser mãe sem ter vivido a adolescência foi um explodir desta dinâmica, uma verdadeira experiência de asfixia perante as exigências de um bebé.
Uma das grandes dificuldades com que me debatia na minha maternidade era a constante escolha entre mim ou a minha filha, o que eu queria fazer no momento e o que eu precisava de fazer por ela. Tudo começou mal ela nasceu e ainda hoje continua.
Quando ela era bebé tudo o que eu desejava era tempo para mim mesma. Desesperadamente tentava concluir as tarefas de mãe e adormece-la para que eu pudesse ter um momento a sós. E dia após dia sentia que sufocava perante as exigências da maternidade.
A minha contra vontade era forte, muito forte por esta altura. Não se manifestava na minha relação com a minha filha, pois consciente e inconscientemente eu sabia que não era culpa dela, mas explodia em todas as outras minhas relações.
Muito particularmente com a minha mãe e o meu marido. Vivia num estado de angústia permanente e culpava-os disso.
Sentia que não tinha qualquer apoio, que sobrava tudo para mim, que carregava o peso do mundo sozinha. E não percebia como é que a prioridade deles não era simplesmente partilhar comigo o fardo de criar uma criança.
O que eu não compreendia é que o peso que eu sentia tinha muito pouco a ver com as exigências da maternidade e quase tudo relacionada com a minha ausência de vontade própria.

Conforme a minha princesa foi crescendo comecei a aperceber-me que o sentimento de sufoco surgia quando ela procurava contacto, ligação, vínculo.
Dava por mim a esconder-me por detrás das tarefas da maternidade, a não ser capaz de estar sozinha com ela sem ter nada para fazer ou a televisão ligada. E quando ela me pedia para brincar então sentia uma vontade urgente e asfixiante de fugir.
Tentei perceber o que se passava comigo durante muito tempo. Fui encontrando diferentes explicações, sem nunca me convencer totalmente da sua validade. Até que escutei Gordon Neufeld explicar que quando um adulto não desenvolveu a sua própria vontade na adolescência, consequência da inexistência de vínculos fortes e relações certas, é uma fortaleza vazia de contra vontade.
E experiencia a vontade dos outros como sufocante, resistindo com tudo o que tem a fazer o que esperam dele. Por outro lado, um indivíduo cuja vontade se tenha desenvolvido de forma saudável, é perfeitamente capaz de acomodar no mesmo momento a sua vontade e a dos outros, sem qualquer experiência de asfixia.
E foi assim que eu percebi porque para mim ser mãe é uma constante batalha entre escolher entre mim ou a minha filha, enquanto que para outras mulheres, não mudando em nada o contexto, é apenas uma dança fácil entre cuidar de mim e de ti, sendo que inúmeras vezes cuidar de ti é também cuidar de mim.
A minha filha pode ter sido, e até ainda ser, uma criança exigente. Mas grande parte das minhas dificuldades, uma grande razão do meu desespero e sensação de desfalecimento que sempre acompanharam a maternidade vem do facto de ter sido mãe antes de ter realmente vivido a adolescência.