logo-mundo-de-parentalidade

Pequenos momentos que representam grandes Lições de Vida

 

Hoje quero falar de momentos que mudam a nossa vida. Momentos que a transformam para sempre, que separam a nossa existência em antes e depois.

Não, não quero refletir sobre o nascimento dos filhos, o dia do casamento ou a morte de alguém querido.

Não são os grandes momentos que quero aqui louvar. Mas sim aqueles pequeninos, praticamente insignificantes e que facilmente nos podem escapar.

Esta semana dei por mim a refletir num desses fugazes instantes. E em como para sempre me senti um ser humano melhor.

Foi no dia 31 de Agosto de um ano qualquer, há quase 20 anos atrás. Era o dia de aniversário de uma das minhas mais queridas amigas.

É uma estranha amizade a nossa. Nunca fomos confidentes. Nunca partilhamos escola, aldeia ou até faculdade. Mas há muito que somos amigas. E há muito que a sinto deveras especial.

A vida encarregou-se de nos apresentar, e a mesma vida impediu que a distância física nos pudesse emocionalmente apartar.

Mas voltemos à história, ao momento que guardo como um tesouro precioso, e de que nunca tive coragem de lhe falar.

Foi há quase 20 anos, no dia do seu aniversário. Por esta altura ela sempre fazia uma festa na casa dos seus pais, e nunca se esquecia de me convidar.

Para mim era um tormento ir a tal celebração. Não por ela, não pelos pais, não por nada em especial. Era só assim a minha vida por esta altura. Tudo o que era social me assustava. E para piorar lá não conhecia ninguém, só tínhamos uma amiga em comum.

Mas eu gostava dela, respeitava-a, admirava-a. Não a queria perder e não a queria desapontar. E um medo falou mais alto do que o outro. Não havia como a essa festa faltar.

 

Era um dia para não me esconder, custasse o que custasse, era um dia para não falhar.

E nesse ano lá fui eu, de coração apertado e lágrimas retidas, ansiosa pela hora de me vir embora.

Fiquei não sei quanto tempo, as horas que fui capaz, e bem antes de a celebração terminar lá me despedi, de cabeça baixa, sorriso tímido e uma enorme vontade de fugir.

Ela olhou para mim e disse: “Obrigada por teres vindo. Especialmente porque eu sei o quanto isso te custou.”

E foi assim, e foi esse o instante, e estava marcado o tempo, num momento que muito ia alterar.

Tenho a sensação de ter erguido o olhar. Ela via-me! Ela via o que existia cá dentro. E ela não criticava. E ela não desprezava. Bem pelo contrário, ela fez-me sentir valorizada.

Nunca mais voltei a ser a mesma, e estou a falar bem a sério.

Os convites de que me assustavam não davam tréguas. Mas agora eu respondia diferente. Agora eu não tentava encontrar desculpas para faltar. Agora eu aprendera a me amar e respeitar pelas lutas interiores que tinha que enfrentar.

Sabes, amiga, eu percebi que há medos que não têm razão de existir e há demónios que vale a pena enfrentar.

Continuei a sentir medo do social. Partilhamos, um dia bem mais tarde, uma festa de despedida de solteira que quase me fez vomitar. Mas nunca pensei faltar, porque há pessoas pelas quais vale a pena quase tudo, até agonizar.

Obrigada por seres uma delas.

 

Share this article

Deixe um comentário

Your email address will not be published. Required fields are marked *