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A importância da Falta de Maturidade na sociedade atual

Existe toda uma indústria dedicada a promover o bem-estar psíquico e emocional, mas o que me parece que falta em demasia é uma compreensão real e profunda do que nos está a acontecer, do que começou a correr mal e se tornou num ciclo vicioso: todos envelhecemos, mas nem todos amadurecemos.

 

Todos envelhecemos, mas nem todos amadurecemos! Esta é, para mim, uma das frases de marca de Gordon Neufeld. Todos crescemos fisicamente, mas nem todos crescemos emocional e psicologicamente. E esta é uma realidade inquestionável dos dias de hoje.

A imaturidade é uma epidemia das sociedades contemporâneas e encontra-se de tal forma disseminada que nem nos apercebemos dela. E digo mais: algures no passado passamos a aceitá-la como a norma e até a valorizá-la.

Tal como um dia escolhemos enaltecer a pele bronzeada ao sol, ignorando o aumento exponencial e relacional dos tumores cutâneos, na atualidade valorizamos as certezas absolutas e a ausência de medo, sem percebermos que tal só existe em mentes de pré-escolares e que nenhuma criança desta idade é capaz de viver como ser independente.

Mas tal como aconteceu com o tabaco, está na hora de acordar e perceber que o preço que pagamos por sermos “fixes” é demasiado alto e compromete não só a nossa própria integridade como o desenvolvimento saudável dos nossos filhos.

E os perigos provêm não só das nossas escolhas individuais, como do contexto social criado pelo conjunto de todos os indivíduos. O fumador passivo também morre de cancro do pulmão. Da mesma forma, a criança que cresce numa sociedade inacabada também é asfixiada pela imaturidade, vergada pelo seu peso.

Quase todos os dias ouvimos falar no aumento das depressões, suicídios e venda de medicação relacionada com doenças do foro psicológico. É já bastante claro que o sofrimento é uma constante da vida da maioria, da nossa própria existência.

E por muito que lutemos por uma vida melhor, parece que nunca lá chegamos, que sempre falhamos o alvo, que algo nos foge pelos dedos sem percebermos bem o que é.

Pelo menos é essa a minha experiência, pessoal e profissional, como ser humano que desespera na escuridão e farmacêutica que escuta os desabafos de quem avia mais uma receita de benzodiazepinas e/ou antidepressivos.

Existe toda uma indústria dedicada a promover o bem-estar psíquico e emocional, mas o que me parece que falta em demasia, senão até mesmo de todo, é uma compreensão real e profunda do que nos está a acontecer, do que começou a correr mal e se tornou num ciclo vicioso: todos envelhecemos, mas nem todos amadurecemos.

A Falta de Maturidade prejudica a vida adulta

A natureza tem um plano para o nosso desenvolvimento. Há milhões de anos que os seres humanos se geram, nascem, crescem, envelhecem e morrem segundo um plano da natureza. Mas essa sabedoria, essa consciência não existe mais.

 

Se no plano físico tentamos combater o nosso amadurecimento natural com tudo o que temos e não temos, desde alimentação saudável e exercício físico até cirurgias plásticas e injeções de células estaminais, no plano psíquico e emocional já ganhamos essa guerra e deixamos de envelhecer.

Mas há um preço a pagar, um preço muito alto, e nem nos apercebemos que é esse custo a causa da maioria dos nossos sofrimentos.

Não é suposto vivermos a idade adulta com a maturidade de uma criança. Mas é isso que está a acontecer. Todos nos revoltamos, e com toda a razão, contra a exploração do trabalho infantil. Todos percebemos que uma menina de 12 anos ainda não está preparada para assumir as responsabilidades da maternidade, nem um rapaz de 15 pode ser um bom pai de família, promovendo o suporte económico e emocional inerente a tal responsabilidade.

Mas é isso mesmo que acontece na atualidade.

Chegamos à idade adulta, ao mundo do trabalho, à maternidade e paternidade com corpos fisicamente amadurecidos, mas com a maturidade emocional e psicológica de crianças em idade escolar, meninas e meninos que ainda precisam de brincar às casinhas e aos médicos e não governar casas e ser doutores ou engenheiros.

Assumimos responsabilidades de adultos com mentes de criança. E sofremos, e quebramos, e morremos a cada dia sem perceber porquê. Trocamos de emprego, desfazemos casamentos, vivemos para as férias e encharcamo-nos de medicamentos.

E nunca percebemos que a única resposta é crescer, verdadeiramente crescer, amadurecer por dentro, pois só no verdadeiro amadurecimento psíquico e emocional a vida adulta se torna não só suportável como deveras prazerosa, independentemente dos desafios que nos são colocados a cada dia.

A natureza tem um plano para o nosso desenvolvimento. E embora esse plano exista não é inevitável. O amadurecimento físico não pode ser combatido, não é passível de ser realmente travado.

Mas o desenvolvimento psíquico e emocional é bem mais fácil de ser interrompido. E é isso o que acontece na maioria dos casos. É essa a norma, de tal forma que um adulto física, psicológica e emocionalmente maduro é a exceção, e não a regra, na nossa sociedade moderna. E só ele possui as ferramentas para se sentir verdadeiramente feliz e realizado.

 

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