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A experiência de nascer e renascer: estou grávida!

A questão é que cada vez mais acredito que o nascimento e a morte são irmãos gémeos, experiências que se cruzam, mundos interligados. E para renascer precisei de morrer.

 

Engravidei à primeira, na primeira tentativa formal para tal acontecer. Senti-me uma vencedora. Na verdade, junto com as contas da ovulação já tinha um plano completo para o caso (que me parecia mais uma certeza) de não conseguir engravidar.

Começávamos a tentar em Abril, no verão talvez acontecesse, talvez não, e em Janeiro do ano seguinte iria procurar ajuda para a infertilidade. Certamente que não iria esperar um ano completo!

Mal eu sabia que no verão iria desejar não estar grávida e em Janeiro iria realmente desejar engravidar o mais rápido possível, mas apenas para poder começar tudo de novo.

Em Janeiro tudo o que eu queria era fugir, largar o barco, voltar ao porto, e iniciar nova viagem. Uma segunda oportunidade. Uma segunda passagem. Uma segunda gravidez.

E, desta vez, eu saberia o que fazer e não me sentiria uma derrotada, uma incapaz, uma doente prolongada. Bem, na verdade já era isso que eu sentia em Junho, bem no início do verão.

Como havia a minha filha de não nascer com baixo peso? Como havia ela de não chorar dia e noite? Que começo de vida. Sim, eu podia começar de novo, engravidar de novo, mas ela não.

Ela estava prisioneira da minha primeira experiência, da minha primeira tentativa. Se eu desistisse ela simplesmente morria. Como não havia ela de viver em pânico?

Não me lembro de um único dia em que tivesse sentido verdadeiro prazer na gravidez. Quando não parecia um pesadelo ou uma vergonha (sim, para mim estar grávida fazia-me sentir envergonhada, embora sem saber porquê) afigurava-se simplesmente como surreal.

 

Não, esta não era a minha vida, não era possível que estivesse a experienciar tal existência, será que já era hora de acordar?

Sim, já era mais do que hora de acordar. Mas para a vida, não para um novo dia. Já era mais do que tempo de abandonar o aconchego e proteção de um mundo só meu, criado 30 anos antes.

Para falar bem verdade, era hora de renascer, ou simplesmente nascer, porque se alguma vez o fiz mais do que fisicamente, certamente que não me recordo disso, e que terá durado muito pouco tempo, com o meu eu ainda bebé a criar um útero figurativo num mundo interior e bem fechado.

A questão é que cada vez mais acredito que o nascimento e a morte são irmãos gémeos, experiências que se cruzam, mundos interligados. E para renascer precisei de morrer.

Choro essa morte. Renasço no seu rescaldo. Rejubilo a nova vida. Morro um pouco mais, um pouco mais fundo, um pouco mais dorido. Volto a renascer mais forte, mais eu mais completa. E começo a acreditar que para sempre assim será.

 

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