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Escolho sentir. Não há de me matar, mas sim salvar-me!

O meu sistema límbico diz-me "foge, foge, foge, estás em perigo, vais morrer". E o meu corpo esforça-se ao máximo para reforçar a mensagem: ameaças de vómitos, desmaios, falta de ar e um desespero sem fim. Mas eu já percebi que o truque é de nada fugir, tudo enfrentar.

 

Eu costumava querer desistir, a toda a hora, a todo o momento. Eu costumava sentir que não aguentava mais, que não conseguia fazê-lo, que precisava de ajuda, física e psicológica, que este mundo não fora feito para mim.

Eu costumava chorar sem parar e, por vezes, nem conseguir chorar. Eu costumava viver em raiva, sentindo-me perdida, completamente sozinha, sem apoio nem compreensão e culpando tudo e todos pela minha incapacidade.

Eu costumava achar-me inadaptada, fraca, defeituosa, alienígena. Eu costumava auto agredir-me com palavras e pensamentos depreciativos, ser, mesmo, uma especialista em auto abuso emocional.

E um dia tudo mudou.

Um dia eu percebi que o que me “matava” era a minha mente e nada mais.

Eu continuo a sentir-me pessimamente, mas só fisicamente.

Eu sinto que vou vomitar, desmaiar, não ser capaz de me levantar. Eu sinto o corpo a tremer, o peito a apertar, os olhos a lacrimejar. Eu sinto-me a desfalecer, as pernas falham, a mente apaga-se e esquece o que ia fazer e eu só quero gritar. Eu sinto a cabeça a doer, os olhos a querer fechar e o mundo a desaparecer. Eu sinto-me a sufocar, sem ar e sem conseguir respirar, até é difícil falar.

Mas agora eu sei que são só sensações e que um dia vão passar. Agora eu sei que o caminho é contraintuitivo e que não há como o evitar.

O meu sistema límbico diz-me “foge, foge, foge, estás em perigo, vais morrer”. E o meu corpo esforça-se ao máximo para reforçar a mensagem: ameaças de vómitos, desmaios, falta de ar e um desespero sem fim.

Mas eu já percebi que o truque é de nada fugir, tudo enfrentar.

 

Escolho sentir porque é a minha salvação

Eu já percebi que o meu cérebro é magnífico na sua tentativa de me proteger, e o centro da sobrevivência é, sem dúvida, o seu ex-libris.

Mas também percebi que ele está preso num tempo que já não existe, a proteger uma criança que já não é criança, mas sim uma mulher adulta e mãe de filhos.

E, por isso, é a minha vez de o ajudar. Como? Provando-o errado, mostrando que ser mãe não mata, que estar desempregada não tem que implicar perdição, que discutir com quem mais amamos não é suicídio.

Então eu fico com as sensações, eu acolho-as, eu dou-lhes tempo e espaço para existirem.

A cada dia sinto-me a desfalecer, mas apenas fisicamente, já não mais mentalmente. E a cada dia eu sei que há de mudar, mas sem que esse seja o meu objetivo nem razão para parar.

A cada dia eu sinto que vou morrer. E a cada dia eu percebo que fui capaz, que ainda estou viva, que sobrevivi. E o meu cérebro está a mudar. Resiste, esbraceja, arranja lembranças e novos pensamentos para me provar errada. Mas está a aliviar a pressão, a necessidade de me proteger.

Já não sinto o desespero debilitante, esse já desapareceu, o meu cérebro está a mudar.

Vem dor, vem desmaio, vem falta de ar, que mais tendes para mim? Vinde trevas, estou aqui. Envolvei-me com tudo o que tendes, não me poupeis a nada. E já agora, obrigada. Do fundo do coração, obrigada.

Não, não estou a ser irónica, estou verdadeiramente grata, porque me apoiaste quando eu não era capaz sozinha, porque me mantiveste a salvo quando o mundo podia matar, porque tudo o que quereis é apenas proteger-me. Vinde-me contar dos perigos, eu escuto, eu não fujo, eu presto atenção. E agora já percebes-te que é seguro deixar-me? Conseguis ver que eu cresci, já sou adulta, já sou capaz?

Sombras, pesadelos, escuridão, bem hajam! Para sempre Obrigada! Principalmente por nunca me terem abandonado até eu perceber e sentir que a vida é só minha e só eu posso escolher como a quero viver.

 

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