
E se escolher uma escola para os nossos filhos nada tem a ver com a escola em si?
Boa ou não, capaz ou incapaz, forte, fraca ou simplesmente mediana eu era, sou e serei sempre a única mãe que a minha filha terá. Eu acreditava, mesmo, que uma escola podia realizar o meu trabalho de mãe? Uma escola podia ser melhor que eu?
No Domingo passado falava com uma nova amiga, que por acaso é professora Montessori. Enquanto escutava as suas lutas e alegrias como docente, dei por mim a perguntar-lhe:
“Já te contei como escolhi a escola da minha filha?”
“Não, por acaso não:”
“Então deixa-me fazê-lo, talvez te ajude a perceber melhor os pais.”
Comecei da maneira convencional, debati-me durante meses com o que me parecia um dilema irresolúvel, e, de repente, num momento de clarividência encontrei a minha resposta. Foi o tempo de um pensamento que finalmente me deu a solução. E é um dos instantes da minha vida de que mais me orgulho.
Mas deixem-me contar-lhes os pormenores. Atrasei a ida para a escola o mais que pude. Quem me conhece sabe bem que defendo que a pré-escola não traz qualquer benefício para as crianças, é apenas um mal necessário numa sociedade que deixou de apoiar o papel dos pais como principais educadores. Mas tinha chegado a nossa hora e era preciso escolher uma.
De imediato comecei as minhas pesquisas. Qual a escola que oferecia o melhor ambiente emocional? Qual a que se alinhava mais com a minha filosofia de educação? Estava disposta a pagar por isso e a deslocar-me para fora da minha terra, se assim fosse necessário. Afinal que valor tem o desenvolvimento saudável dos nossos filhos? Simplesmente impagável!
Descobri a escola dos meus sonhos apenas meia hora de casa. A cada pergunta que lhes fazia a resposta não podia ser melhor. Era perfeita… ou quase.
Podia ser só a meia hora de distância, mas era fora da terra e da minha rede de apoios. Quando eu não pudesse ir levar ou buscar a minha filha, não tinha ninguém para me substituir. Será que conseguia sozinha? No que eu conhecia do meu dia-a-dia ia ser uma transição difícil para mim. Senti-me fraca, incompetente, egoísta. Mas que raio de mãe era eu se não estava disposta a fazer esse sacrifício pela minha filha? Sim, o meu marido estava em África e sem possibilidade de ajudar, mas quantas mães solteiras não existem neste mundo? Como podia eu considerar o meu conforto numa escolha de vida tão importante para a minha princesa?!
Depois vieram outros pensamentos: “Mas se ela for para essa escola vai perder todos os laços com a comunidade. Todos os vínculos novos virão de fora e não de dentro da família, dos já existentes. E isso não é de todo o ideal. Se, por outro lado, ela for aqui para a escola pública da terra, há uma continuidade de relacionamentos e haverá um sentido de família muito importante. Afinal uma das auxiliares ainda é parente e a professora é irmã de uma grande amiga.”
“Lá estás tu com desculpas Márcia Carneiro. Sempre a arranjar pretextos para conseguires o que queres sem grande esforço. Então não vês que a escola pratica o tempo de pausa e têm uma filosofia de educação baseada no comportamento?”
E este debate ia decorrendo na minha mente, dia sim, dia sim. Um dia escolhia uma escola, no outro estava decidido que a minha filha iria para a outra. Não conseguia resolver-me, perceber o que de facto era melhor.
Visitei a opção da terra e simpatizei com a professora e as auxiliares. Fui para casa ainda mais frustrada, novamente presa nos meus pensamentos: “Mais me valia não ter gostado delas, assim ainda é mais difícil. É claro que as pessoas são o mais importante, muito mais que as instalações e até mais que a filosofia de educação. Mas como posso ter a certeza? Como posso saber qual é a decisão mais acertada?”
Estava na hora de escolher e após meses de ponderação ainda não sabia o que fazer. Num momento de puro cansaço, extenuada de tanto questionar, comecei a partilhar as minhas dúvidas no que era o meu lugar seguro: o meu CARE group de Leslie Potter. Escrevi e escrevi sem parar, apresentando os prós e os contras de ambas as decisões e a forma como me sentia com tudo isso. Escrevi sem medos nem filtros, como sempre o faço lá. E também como de costume, escrevi para mim, para me escutar a mim própria.
E por fim chegou-me a resposta, como que acordada por um meteorito que finalmente derrubava a parede que me ofuscava a visão. Nada disto era o que parecia ser. Nada disto tinha a ver com as instituições em questão.
O que eu queria era uma escola que me substituísse na educação da minha filha. A minha crença limitante é sempre a mesma “não sou suficientemente boa” e era ela que dava as cartas aqui também. Eu não me sentia capaz de criar uma criança emocionalmente saudável, e procurava uma ajuda, um apoio… mais, muito mais, alguém que o fizesse por mim fora de casa e me permitisse margem para errar dentro do lar.
Mas o que raio desejava eu? Ser substituída no meu papel de mãe? Boa ou não, capaz ou incapaz, forte, fraca ou simplesmente mediana eu era, sou e serei sempre a única mãe que a minha filha terá. E é a mim e só a mim que compete ser a sua estrela polar. E eu queria que uma escola ficasse com o meu lugar? Eu acreditava, mesmo, que uma escola podia realizar o meu trabalho de mãe? Uma escola podia ser melhor que eu?
Pois é, parece ridículo, mas era a verdade que operava no meu inconsciente e a força motriz que movia a minha escolha, ou neste caso a ausência dela. Uma vez caída a cortina e descoberta a nudez foi claro o passo a dar: seria a escola pública a escolhida.
Uma vez revelada a crença e eliminado o seu poder, foi instintiva a resposta. E como acontece sempre que encontramos e seguimos o nosso instinto de mães e pais, não podia estar mais satisfeita com os resultados.
Meio ano passados orgulho-me da decisão. Sem dúvida que escolhi a escola ideal.