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Será que devo amamentar ou não? Eis a questão!

A minha filha nunca pegou no peito. Após algumas tentativas, que gastaram toda a minha energia e me deixaram em lágrimas e desespero, desisti de o fazer. Convenci-me que os 2 dias que havia passado sem a ver e em que ela havia sido alimentado a biberão tinham estragado esse objetivo, e parei de tentar.

 

Cresci sem ver nenhum bebé a ser amamentado. Só biberon.

Cresci a acreditar que nem todas as mulheres podiam ou conseguiam amamentar os seus filhos e que o leite materno podia ser fraco ou desaparecer num instante, num momento de stress.

Cresci a crer que o leite artificial era tão bom como o materno, senão melhor. E não foi só a publicidade que me ensinou o último. Foram pessoas a sério e a maioria delas por mim vistas como autoridades na matéria.

Cresci a pensar que o peito de uma mulher desaparece ou perde beleza após a amamentação, que depois de sermos mães temos 2 opções: ou amamentamos ou mantemos as maminhas que Deus nos deu tal como antes (quando grávida, uma amiga confidenciou-me não ter acontecido com ela e mais tarde provou-se verdade para mim também).

O meu falhanço quanto tentei amamentar

Quando engravidei quis amamentar, apesar de tudo o que havia aprendido no passado.

Como Farmacêutica já tinha percebido que não havia nada melhor para o bebé que o leite materno. Que nenhum leite artificial se lhe conseguia comparar.

Afinal quantas vezes conseguimos escutar um delegado de informação médica elogiar a nova fórmula de leite da sua marca como “a mais semelhante no mercado com o leite materno, a mais parecida de sempre, o resultado da mais avançada tecnologia” até percebermos que o Santo Graal é o LEITE MATERNO?

Comprei um livro popular e muito vendido sobre a gravidez (que não recomendo e por isso não aparece nas minhas listas) com um grande capítulo sobre amamentação. Apesar das suas numerosas falhas (que mais tarde descobri a duras penas) a secção sobre a composição, qualidade e valor deste ouro líquido era boa e eliminou muitos dos meus mitos anteriormente aprendidos.

Quis amamentar. Falhei. Pelo menos em parte. Mais tarde quis perceber porquê, compreender melhor o que tinha corrido mal comigo e o que desesperava tantas das recém mães que acolhia no balcão da farmácia.

Formei-me como Conselheira de Aleitamento Materno (CAM). Mas a lição mais importante, o espírito de quem sou como CAM criou-se bem antes do curso, num desses momentos da vida que nos mudam para sempre.

 

A minha missão como Conselheira de Aleitamento Materno (CAM)

A minha filha nunca pegou no peito. Após algumas tentativas, que gastaram toda a minha energia e me deixaram em lágrimas e desespero, desisti de o fazer. Convenci-me que os dois dias que havia passado sem a ver e em que ela havia sido alimentado a biberão tinham estragado esse objetivo, e parei de tentar.

Hoje sei diferente. Hoje, como CAM, sei que nada estava condenado. Mas também hoje estou em paz com a minha decisão, informada ou não. Mais, estou grata a essa experiência de insucesso, pois o momento em que desisti de vez vai-me ficar marcado para sempre: o momento em que insistiram de mais comigo, o momento em que quiseram que eu amamentasse mais do que eu o queria fazer, o momento em que não respeitaram o cansaço e o choro, meu e da minha filha, e insistiram, insistiram, insistiram.

Hoje, como CAM, sei que ajudar uma puérpera a amamentar não é sobre mim, sobre as minhas competências, nunca, jamais. É sobre a recém mãe há minha frente. Eu não tenho agenda, querer ou desejos. Tudo fica em casa quando vou apoiar alguém. Tudo o que me interessa é ela, o que ela precisa, o que ela quer, o que ela me comunica, verbal e não verbalmente.

Nunca influencio para parar de amamentar. Rezo sempre para que a mãe não desista pois conheço bem o valor do leite materno. Mas vou de mente aberta e jamais faço juízos de valor. Quem sou eu para saber o que é melhor para outro?

Vou sem críticas, aberta a todas as possibilidades e disposta a apoiar o que a mãe quiser fazer. Respeito o seu tempo, os seus limites, o seu cansaço.

Com isto torna-se claro, com o tempo, a motivação da mãe. Já dei casos como perdidos, no primeiro momento, para mais tarde descobrir que estava errada. E o oposto também me aconteceu.

A motivação intrínseca da mãe é o fator determinante do sucesso ou insucesso da amamentação. Eu sou apenas uma facilitadora do processo.

A minha frustração e impotência são sentimentos meus, responsabilidades minhas. Nunca, jamais o sucesso ou insucesso da amamentação de outra mulher deve ser indicador das minhas capacidades ou incapacidades como CAM ou servir para eu fugir de sentir os meus desconfortos.

A melhor forma de condenar o sucesso da amamentação ou roubar uma mulher da sensação e verdade de que ela é a resposta para as necessidades do seu filho, de que só ela saberá o que é melhor para cada momento e situação, é entrar na sua vida com uma agenda própria.

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