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Desejo de validação: crónica de uma morte anunciada

Com medo do desconhecido olho para o cimento e pergunto-me o que fazer com ele, se não o devia reparar. É a minha necessidade de validação que representa aquele cimento e livrar-me dele pode significar livrar-me de tudo o que até aqui conquistei no contexto social.

 

Há já algum tempo que sinto que um novo portal se abre debaixo dos meus pés. Um novo crescimento emocional requer que abandone mais uma pele.

Desta vez o crescimento tem a ver com ser fiel a mim mesma e aos meus princípios, mesmo quando essa fidelidade não vai ser entendida ou até aceite pelos outros. E a pele que tenho que largar é o desejo de validação.

Sei para onde caminho e isso ajuda-me na jornada. Conhecer o destino final ajuda-me a manter o rumo mesmo quando a estrada se enche de nevoeiro.

Em dias como hoje conduzo a minha vida às escuras, sem noção de que obstáculo me vai surgir e provocar um acidente. Em dias como hoje temo que o acidente seja mortal, que o atrevimento de ser eu mesma me custe uma perda demasiado pesada.

Mas escolho não resistir.

Sei que ainda não cheguei ao resultado final, ainda há mais peles para perder.

Mas escolho não resistir.

Neste momento vivo a separação, a separação de tudo o que é conhecido sem garantia de que o que virá será melhor. Acredito no processo.

Acredito no princípio de ortogenética de Heinz Werner: fusão, separação, integração.

Tudo tem o seu lugar, tudo tem o seu tempo. Hoje é tempo de sentir solidão, incompreensão, medo de morte e profunda desilusão.

Descubra aqui porque o desejo de validação pode ser um obstáculo ao amadurecimento psicológico

Existem 3 pilares de maturação psicológica:

1 – Ser um ser verdadeiramente independente, capaz de sobreviver e saber quem é mesmo na ausência de vínculos.

2 – Ser um ser capaz de se adaptar a qualquer situação.

3 – Ser um ser social, no seu sentido mais maduro.

 

Há já algum tempo que percebo que caminho no sentido do meu amadurecimento como ser social. Ser um ser social, no seu sentido mais maduro, é ser capaz de enfrentar um conflito mantendo a integridade (a sua verdade) e a diplomacia (o respeito pelos outros).

Não é algo de fácil compreensão pois é muito rara a oportunidade de ver alguém realizá-lo. E mais raro ainda perceber o que se passa na nossa frente.

Vivemos numa sociedade que quer ensinar as crianças do pré-escolar a serem sociais. Vivemos numa sociedade que mete a carroça à frente dos bois.

E, com isso, criamos adultos como eu. Adultos que aos 40 ainda não sabem estar verdadeiramente em sociedade, porque se exigiu aos 2, 4 e até 8 anos o que a natureza só programou para após a adolescência.

A verdadeira maturidade social não é passível de ser ensinada. Não nascemos tábuas rasas como um dia defendeu John Locke.

A verdadeira maturidade social é algo que vem de dentro para fora, uma fonte que nasce em nós e um dia jorrará com toda a sua força.

Com a nossa necessidade de tudo apressar, criamos uma fonte artificial onde deveria surgir a verdadeira. E com isto cimentamos e aprisionamos a natural.

Mas nenhuma fonte artificial é igual a uma natural. São tantas as diferenças que nem dá para enumerar. Mas o que mais salienta há vista é que uma fonte natural é e será sempre espontânea, não dependente do homem. A artificial dependerá eternamente de manutenção humana.

No meu caso, descobri que a minha fonte artificial precisava de eterna validação. Sem ela a água parava de jorrar.

Mas o cimento está a rachar e as águas da fonte natural fazem a sua aparição.

Com medo do desconhecido olho para o cimento e pergunto-me o que fazer com ele, se não o devia reparar. É a minha necessidade de validação que representa aquele cimento e livrar-me dele pode significar livrar-me de tudo o que até aqui conquistei no contexto social.

Como sei eu que a fonte natural me servirá como a artificial?

Porque acredito no poder da natureza. Ninguém envelhece sem ganhar rugas. E ninguém amadurecerá sem se tornar um ser social uma vez removidos os impedimentos a esta maturação.

 

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