
Mãe desesperada, esposa revoltada, filha magoada: o mesmo desabafo!
Não percebo esta cegueira do mundo. Não percebo a existência de tanto ódio. Mas a verdade é que eu também estou cega e odeio, por isso como posso eu apontar o dedo?
Eu sei que estou a exagerar. Eu sei que estou a agir como uma criança, como a criança que um dia fui e precisou de desenvolver estas estratégias, estas formas de atuar para sobreviver.
Eu sei que não ganho nada com este comportamento e que logo, logo vou arrepender-me de o ter.
Mas neste instante não há mindfulness que ajude, não há respiração ou mantras que impeçam o meu agir.
Neste momento desvinculo e deixo tudo para trás, nada mais me preocupa, simplesmente não quero mais saber.
Só me interessa estar sozinha porque só quando só posso ser eu. Sacrifico o relacionamento, seja com quem for, para poder nada sentir, para nada ter que enfrentar ou resolver.
Sinto raiva. Sinto desdém. Só me apetece que eles passem um mau bocado, um pedaço bem pior do que eu experimentei.
Mas é tudo uma ilusão. E o pior é viver neste limbo.

Quero que sofram para saberem como eu sofri, para compreenderem como eu me senti e assim me darem razão.
Que estratégia estúpida de conexão. Quero que me percebam para depois me amarem, mas ninguém percebe o bullier, aquele que agride, aquele que nada sente, aquele que deseja o sofrimento do outro.
Ninguém percebe o bullier, mesmo quando é ele quem mais sofre.
Não percebo esta cegueira do mundo. Não percebo a existência de tanto ódio. Mas a verdade é que eu também estou cega e odeio, por isso como posso eu apontar o dedo?
Sinto-me criança magoada. Muito, mesmo muito magoada. Como só aqueles que mais amamos nos podem magoar.
Sinto-me uma falhada, um zé-ninguém, uma pária fraca e sem vontade de lutar.
Sei que não é este o caminho. Deus, como o sei bem. Mas neste momento não consigo mudar meus atos, minha forma de agir, minha maneira estúpida de me comportar.
Viro costas e afasto-me, magoada e de nariz empinado.