
Cuidado com os especialistas de parentalidade
Sou coach de parentalidade, sou uma estudante eterna do que me apaixona de coração. E sou mãe. E como tal tenho que aceitar que tudo o que aprendo e ensino são projetos em papel, andaimes que rodeiam a casa em construção.
Muito é dito sobre parentalidade. Muito nos é transmitido sobre como educar os nossos filhos, como os criar, o que fazer para eles se transformarem em seres humanos emocionalmente saudáveis e realizados. E o que não fazer, perante o risco de os incapacitarmos para a vida.
E nós, o que pensamos? O que nos dizem os nossos instintos?
Muito nos é apresentado sobre como nos regularmos, ajudarmos os nossos descendentes a regular as suas emoções, a desenvolver os seus talentos, a aprender a serem responsáveis e resilientes. Até nos é dito como permitir que os nossos filhos sejam crianças.
E nós? E a nossa auto critica? E a nossa intuição?
Temos a Parentalidade Consciente, a Parentalidade Positiva, a Parentalidade Pacífica, a Parentalidade por Conexão e não sei quantos mais termos para descreverem variações do mesmo: fórmulas de como bem educar os nossos filhos.
E nós? Somos meras marionetas neste jogo que é a vida de alguém? Somos meros soldados que obedecem a ordens quando o que está em jogo é a felicidade de quem mais amamos?
Eu sou, eu tenho sido… eu já fui. Chega. Não mais.
Reclamemos o nosso papel de especialistas no que aos nossos filhos diz respeito. Sim, quem estuda a parentalidade tem muito para nos oferecer, tem pérolas preciosas para nos dar e ajudar a melhor educar os nossos descendentes.
Mas não os coloquemos no papel de pais dos nossos filhos, no papel de especialistas daqueles que geramos e fizemos nascer. Por muito tentador que seja, não os coloquemos no que é o nosso lugar.
Está na hora de crescermos. Está na hora de amadurecermos. Está na hora de nos responsabilizarmos pelas nossas escolhas. Está na hora de admitirmos que somos nós que criamos a nossa vida.
Está na hora de sermos pais!
E tudo isto implica entrar no mundo do desconhecido, da ausência de respostas, da vida no limbo.
Ser pai, ser mãe é não saber o que o dia de amanhã nos reserva e aprender a viver com isso. Ser pai, ser mãe é a cada momento, a cada segundo, tomar decisões de vida ou morte, de construção ou destruição sem nunca saber se realmente acertamos. Ser pai, ser mãe é perseguir constantemente o objetivo da perfeição no que é o trabalho mais importante da nossa vida. E saber sempre que vamos falhar e não ser nada mais do que perfeitamente imperfeitos.
Sou coach de parentalidade, sou uma estudante eterna do que me apaixona de coração. E sou mãe. E como tal tenho que aceitar que tudo o que aprendo e ensino são projetos em papel, andaimes que rodeiam a casa em construção.
Dão visão, orientação, segurança, apoio. Dão estrutura. Mas não constroem nada. Quem constrói são os verdadeiros trabalhadores, que nada percebem de arquitetura, mas conhecem os materiais como ninguém: os pais.