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Confusão e Dissonância: Sinais de Amadurecimento

Sim, sentir 2 emoções contraditórias em simultâneo, desejar os opostos ao mesmo tempo, argumentar comigo própria a toda a hora, é algo que surgiu com todas as mudanças físicas e psicológicas inerentes à Adolescência. Mas nunca ninguém me disse que era normal e saudável.

 

Enquanto escuto Gordon Neufeld falar do sétimo ritual de passagem da AdolescênciaConfusão e Dissonância – não consigo deixar de pensar como um simples conceito pode mudar uma vida inteira.

A minha filha devia ter por volta de uma ano de idade, quando Haim Ginott, no seu livro Between Parent and Child, me deu a conhecer que sentir 2 emoções opostas em simultâneo era não só normal como saudável. E, acrescentava ele, era premente ensinar isso aos nossos filhos.

Fiquei perplexa. Nunca antes, nos meus quase 40 anos de vida, tinha sequer considerado tal ideia. Para mim sempre devia ser preto ou branco, e nunca preto e branco.

Ano e meio passados sobre essa consciência, escuto Gordon Neufeld falar desse conceito e da sua importância no desenvolvimento do potencial humano. Segundo ele, entre os 5 e os 7 anos, as crianças emocionalmente saudáveis começam a ser capazes de experienciar 2 pensamentos e/ou sentimentos opostos em simultâneo. É a Integração. É o Amadurecimento. E é o fim dos sentimentos puros e perfeitos.

Gordon Neufeld apresenta-me a Teoria da Ortogénese. Na sua explanação, utiliza o exemplo de que o bebé quando nasce só vê de um olho de cada vez. E só quando o funcionamento dos dois olhos separados está bem estabelecido, ele é capaz de os utilizar em simultâneo. E com isso adquire a visão de profundidade.

De igual forma, a criança pré-escolar só é capaz de experienciar um pensamento e um sentimento de cada vez. Para ele não há “isto e aquilo” mas simplesmente “isto ou aquilo”. E só por volta dos 6 anos começa a ser capaz de sentir a contradição, os opostos em simultâneo.

Para mim era claro que apesar de eu não ter 6 mas sim quase 40 anos, esta era uma capacidade que eu não tinha ainda bem explorado. Sempre havia fugido das contradições e quando me percebia sentindo a dissonância fugia dela a sete pés, acreditando que devia de haver algo de muito errado comigo.

Como posso eu querer sair com os amigos e ficar em casa ao mesmo tempo? Como me é possível amar e odiar o mesmo ser em simultâneo? Acreditava ser defeito de fabrico, tentava arduamente escolher uma das opções e sofria a cada tentativa pois falhar parecia ser a minha mais perfeita constante.

Mas após a consciência da importância de aceitar a dissonância, comecei a acolhê-la sempre que possível. E digo sempre que possível porque não é nada fácil experienciar a contradição sem a tentar mudar, sem procurar solução e, até, sem arranjar alguém a quem culpar pela nossa falta de certeza e decisão.

A importância da Confusão e Dissonância

Percebi que experimentar os contrários é algo bem difícil e, por isso, compreendi porque a natureza é generosa e espera pelo passar dos 6 anos para nos oferecer essa capacidade.

 

E enquanto praticava sentir e viver o processo de integração, perguntava-me qual seria o resultado final, a experiencia de ver a 3 dimensões. Parecia que algo me fugia, mas não sabia o quê e nem sequer tinha a certeza de que tal fosse mesmo real.

E se não houvesse visão de profundidade no pensar e sentir contraditório? E se não existisse qualquer terceira dimensão?

Vivi assim quase 2 anos, até que comecei a sentir que algo mudava no meu interior.

Havia uma paz, uma perda da sensação de urgência que sempre me parecia acompanhar, uma aceitação do que é como simplesmente sendo, não precisando de ser mudado, que me fazia sentir como nunca antes tinha sentido e escolher comportamentos que sempre me haviam parecido inacessíveis no passado. Nada mudara… e tudo mudara em simultâneo.

Sim, havia aqui uma terceira dimensão que só agora se mostrava disponível. Um conhecimento novo, uma vivência nunca antes sentida. Como se sempre tivesse visto a preto e branco e finalmente descobrisse a existência das cores.

E agora que escuto e percebo o sétimo ritual de passagem da AdolescênciaConfusão e Dissonância – percebo que lhe resisto há mais de 25 anos.

Sim, sentir 2 emoções contraditórias em simultâneo, desejar os opostos ao mesmo tempo, argumentar comigo própria a toda a hora, é algo que surgiu com todas as mudanças físicas e psicológicas inerentes à Adolescência. Mas nunca ninguém me disse que era normal e saudável.

Nunca ninguém me explicou que acolher a dissonância era a única forma de aprender a viver com ela e de verdadeiramente ganhar uma nova maturidade. E por isso vivi presa na sua fase mais dolorosa durante uma vida que chegou à idade adulta.

Mas o potencial de amadurecimento é forte e resiliente na sua tentativa de resolução, e paciente, extremamente paciente. Mesmo uma vida depois oferece uma segunda oportunidade. E desta vez eu decidi aproveitá-la, uma vez percebido o conceito.

 

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