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Será que a anestesia epidural pode interferir com a Amamentação?

No livro “Dr. Jack Newmans´s Guide to Breastfeeding”, o autor explica como as intervenções realizadas durante o trabalho de parto e parto podem influenciar a amamentação.

 

Atualmente cada vez mais mulheres querem amamentar. Percebem o valor do leite materno e desejam oferecê-lo aos seus filhos.

Infelizmente do querer ao fazer ainda vai uma distância longa.

Atualmente a maioria das mulheres já experimenta dificuldades com a amamentação assim que chega a casa, se não mesmo ainda no hospital. São vários os fatores que fazem da amamentação um desafio muitas vezes não superado.

Hoje quero focar-me num que considero tão importante como negligenciado: a anestesia epidural.

Será que a epidural atrapalha a amamentação?

O Dr. Jack Newman, pediatra canadiano e um dos maiores especialistas mundiais em aleitamento materno, é bastante claro na sua resposta: sim, a epidural interfere com a amamentação.

Perceba aqui como a Epidural pode comprometer a Amamentação

No livro “Dr. Jack Newmans´s Guide to Breastfeeding”, o autor explica como as intervenções realizadas durante o trabalho de parto e parto podem influenciar a amamentação.

Práticas como a anestesia epidural ou a cesariana eletiva são apresentadas como opções sem riscos às grávidas que temem a dor de parto (e até às que não a temem). Na realidade nenhuma prática médica pode ser considerada isenta de riscos. A epidural é uma delas. E uma das baixas pode ser o sucesso da amamentação.

Muitos autores defendem que a epidural não interfere com a amamentação uma vez que o seu efeito já quase que passou ou desapareceu por completo quando o bebé começa a mamar.

O Dr. Jack Newman discorda.

Baseando-se em estudos científicos, explica que quanto mais cedo a mulher inicia a anestesia epidural maior a concentração deste fármaco que é posteriormente encontrada no cordão umbilical (e consequentemente no bebé).

Mas, segundo ele, não é só a presença ou ausência da droga usada na epidural que interfere com a amamentação quando uma parturiente decide usar este tipo de analgesia. Vários outros fatores, inerentes ao uso da epidural, apresentam o potencial de influenciar negativamente a amamentação e raramente se fala neles quando se debate se a epidural interfere ou não com a amamentação.

Mas para se realizar uma escolha informada é preciso avaliar todas as variáveis.

Eis como a epidural pode interferir com a amamentação, mesmo quando acreditamos que os fármacos atualmente usados nesta anestesia são inócuos para o aleitamento materno:

1 – Quando uma parturiente recebe uma epidural, são-lhe também administrados fluídos por via intravenosa. O objetivo da administração destes líquidos é impedir uma quebra da tensão arterial, um efeito secundário frequente da epidural.

Estes fluídos extras vão também para o bebé, que consequentemente nasce mais pesado (comparativamente ao peso com que nasceria se a mãe não recebesse fluídos intravenosos) por excesso de líquidos no organismo.

Uma vez cá fora começa a livrar-se de todo o excesso de líquidos com que nasceu pelo xixi. Quando volta a ser pesado vai apresentar uma perda de peso que não é real, mas sim a soma entre a perda de peso real e o peso dos fluídos extra com que nasceu.

A maioria dos hospitais possui a política de que quando um bebé perde mais de 10% do seu peso à nascença tem que ser suplementado com leite artificial.

Os bebés que nasceram “inchados” devido à administração de fluídos intravenosos juntamente com a epidural vão atingir esse valor muito mais rapidamente (e sem que isto traduza uma perda de peso real de mais de 10%).

Consequentemente vão receber leite artificial mais rapidamente, o que despoleta uma cascata de consequências que compromete o sucesso da amamentação, imediato e/ou a longo prazo.

Quando um bebé recebe leite artificial a mãe perde confiança na sua capacidade de amamentar o filho. Acredita que o seu leite insuficiente, em qualidade e/ou quantidade. Este minar de confiança materna vai promover o uso de leite artificial e o insucesso da amamentação, independentemente de o início da suplementação ter sido necessário ou não.

Paralelamente, está cientificamente provado que o uso precoce de biberon compromete a capacidade de um bebé de realizar uma boa pega da mama e retirar dela o leite que precisa. Como a maioria da suplementação é realizada com biberon, já temos aqui uma dupla desvantagem.

 

2 – Como se isto não fosse suficiente, existe ainda mais uma complicação que pode surgir do uso de fluídos intravenosos: um inchaço geral da mãe que se pode traduzir num ingurgitamento mamário.

Se juntamente com a administração de fluídos intravenosos a parturiente recebe ainda oxitocina artificial (um fármaco muitas vezes usado para induzir ou acelerar o parto) o inchaço é ainda maior, particularmente ao fim de 2 a 3 dias, que é quando ocorre também a chamada subida do leite.

Maior inchaço geral traduz-se num maior ingurgitamento e quanto maior o ingurgitamento maior a dificuldade de um bebé realizar uma boa pega e, consequentemente, mamar eficazmente.

Paralelamente, devido ao inchaço mamário os mamilos ficam achatados e a puérpera é aconselhada a usar bicos de silicone. Mais um golpe para a sua confiança na capacidade de amamentar o seu filho, com as já referidas consequências no sucesso da amamentação.

2 – O uso da anestesia epidural aumenta a probabilidade de uma mulher desenvolver um estado febril durante o trabalho de parto ou parto.

O mecanismo pelo qual isto acontece não é ainda bem conhecido, mas acredita-se que esteja relacionado com o facto de os fármacos usados na anestesia epidural interferirem com o mecanismo de regulação da temperatura corporal.

Como é difícil determinar com rapidez se a febre resulta da administração de uma epidural ou de um quadro infecioso, a parturiente é imediatamente medicada com antibióticos.

A febre materna leva a um aumento dos batimentos cardíacos do bebé. Isto pode sugerir ao pessoal que acompanha o parto que o bebé está em sofrimento fetal. O objetivo passa a ser que o bebé nasça o mais rapidamente possível, muitas vezes recorrendo à cesariana.

Uma vez o bebé cá fora muitos hospitais possuem a política de separar mães e bebés quando existem quadros febris, como resposta à ameaça de uma possível infeção.

O bebé é então levado para a neonatologia, onde é submetido a diversos testes, medicado com antibióticos e, muito provavelmente, alimentado a leite artificial. Está comprometida a amamentação.

3 – Paralelamente, o facto de que a mãe e/o bebé receberem antibióticos aumenta a probabilidade de um ou ambos desenvolveram uma candidíase (infeção fúngica). A dor causada nos mamilos maternos como resultado de uma candidíase leva muitas mães a deixarem de amamentar.

4 – Quando a parturiente recebe uma epidural é mais provável que o bebé nasça com a face virada para a frente do corpo da mãe (posição occipital posterior) e não para a parte de trás do corpo materno (posição occipital anterior).

Como o parto é mais difícil na posição occipital anterior, muitos destes bebés acabam por nascer com o recurso a ventosas, fórceps ou cesariana.

O índice de Apgar à nascença tende a ser menor nestes recém-nascidos e o recurso a episiotomias ou a ocorrência de uma rutura espontânea do períneo maior.

Consequentemente, o bebé possui uma maior probabilidade de ser separado da mãe assim que nasce e a puérpera sentirá mais desconforto e dor posterior ao nascimento. Tudo isto influencia negativamente a amamentação.

É verdade que muitas recém mamãs superam as dificuldades iniciais, especialmente se possuem uma produção de leite abundante e ajuda especializada. Mas infelizmente inúmeras mães nunca chegam a receber essa ajuda e a simples escolha de uma epidural pode levar ao insucesso da amamentação, quer na sua iniciação quer na sua duração.

Muitos bebés criados a leite artificial são-no por causa da epidural.

A resposta não é demonizar a anestesia epidural. Mas sim fornecer a informação correta que permita às futuras mães realizarem uma escolha informada.

Uma mulher pode escolher um parto com epidural e simultaneamente precaver-se para possíveis consequências na amamentação com uma rede de apoio que a ajudará a superar os desafios. Ou pode escolher um parto sem qualquer analgesia.

O importante é que faça uma escolha consciente e bem informada.

 

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