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Alta Sensibilidade: um traço de personalidade desconhecido

As crianças altamente sensíveis possuem uma vida interior muito rica e pensamentos profundos para a idade. É comum preocuparem-se imensamente com assuntos com que só os adultos deviam preocupar-se.

 

Na década de 90 do século passado a psicóloga e autora Elaine N. Aron apresentou ao mundo um novo traço de personalidade: a alta sensibilidade.

Milhões de indivíduos que haviam passado a sua infância, adolescência e idade adulta sem perceber porque se sentiam imensamente diferentes do resto dos humanos compreendiam agora a razão. Mais, para muitos era a primeira vez que se sentiam normais na sua diferença.

Se considerarmos que desde então se descobriu que 20 a 30% da população humana (e não humana) é altamente sensível e que esta percentagem cresce a cada ano (como resultado das práticas obstétricas atuais e maior sobrevivência dos bebés prematuros) compreendemos a importância de falar mais sobre este tema em Portugal.

Não é fácil ser altamente sensível no mundo atual, não é fácil ser mãe de uma criança altamente sensível e mais difícil ainda é quando ambos possuem este traço de personalidade.

Se a isto adicionarmos o desconhecimento da alta sensibilidade, podemos perceber o pesadelo que tantos pais e mães vivem diariamente em silêncio.

As variações práticas podem ser muitas, mas a mensagem de base é a mesma nos pais altamente sensíveis e/ou progenitores de crianças altamente sensíveis:

“Não sou normal”.

“O meu filho não é normal”.

“Tenho algum defeito de fabrico”.

“Acho que há algo de errado com a minha filha”.

“Sou Asperger, embora os testes digam que não. Tenho a certeza que sou”.

“Sempre desconfiei que o meu filho fosse autista, embora a psicóloga diga que não”.

Ou seja, em todas as exclamações existe a assunção de que o pai, a mãe, o filho ou todos não são normais.

As pessoas altamente sensíveis são normais sim. Existe uma razão evolucional para esta forma de ser, uma razão tão antiga como a origem das espécies.

Mais, as pessoas altamente sensíveis possuem geralmente alguns dons que quando descobertos e expressos podem mudar o mundo.

O que é a Alta Sensibilidade? Conheça algumas características e exemplos

As crianças altamente sensíveis são conhecidas como sendo mais intensas e facilmente alteradas pelo ambiente envolvente. São crianças que praticamente desde que nascem apresentam uma grande sensibilidade às mudanças que ocorrem ao seu redor.

As crianças altamente sensíveis reagem com mais intensidade aos sons, pedindo aos pais para pararem de gritar quando eles nem sequer sentem que estão a falar alto.

Apercebem-se de qualquer pequena mudança na sua alimentação, queixando-se que um dado alimento não sabe bem quando para os pais sabe exatamente igual a todas as outras vezes. Provavelmente foi lavado com outra água ou cozinhado num forno diferente. O que é indecifrável para a maioria constitui uma mudança gritante para estas crianças.

 

Possuem uma alta sensibilidade aos cheiros, podendo estes ser razão de recusa para visitar um parente, dormir numa cama diferente, experimentar uma roupa nova ou até dar um beijo ou abraço a alguém que amam.

As etiquetas da roupa e determinados tecidos podem constituir um verdadeiro tormento para estas crianças, levando-as a recusar linearmente usar determinadas peças de vestuário.

O comportamento de uma criança altamente sensível oscila drasticamente em função de pequenas alterações no estado de ânimo dos seus cuidadores. Muitas vezes estes pais conseguem perceber que estão mais tensos ou relaxados pelo comportamento dos seus filhos, como se fosse um espelho ambulante que lhes reflete o que conscientemente não estão a ver.

Em termos emocionais, uma criança altamente sensível parece ler a energia de uma sala em apenas frações de segundo. Muitas vezes até as emoções de um animal são capazes de decifrar.

As crianças altamente sensíveis não toleram histórias, músicas e filmes que parecem não incomodar mais ninguém. Choram desalmadamente perante o conto do Patinho Feio ou passam inúmeras noites repletas de pesadelos após verem O Rei Leão.

As crianças altamente sensíveis possuem uma vida interior muito rica e pensamentos profundos para a idade. É comum preocuparem-se imensamente com assuntos com que só os adultos deviam preocupar-se.

São muito curiosas. A quantidade e qualidade das perguntas que colocam são bem capazes de levar um pai ao desespero.

As crianças altamente sensíveis detestam o conflito. Embora sejam conhecidas pelas suas birras poderosas e possíveis ataques de fúria intensa, odeiam discórdias.

As crianças altamente sensíveis têm sempre uma resposta pronta e argumentam de tal maneira que parecem mini advogados.

As crianças altamente sensíveis são intensas, cansativas, inteligentes, argumentativas, irresistíveis no seu encanto e desesperantes nos seus comportamentos aparentemente exagerados.

São igualmente deliciosamente meigas, inteligentes, carinhosas, compreensivas e apaixonantes, quando se sentem vistas e compreendidas.

Eis alguns testemunhos de pessoas altamente sensíveis e/ou pais de crianças com este traço de personalidade:

“A minha filha recém-nascida costumava parar de mamar para escutar a máquina de cortar relva que operava no exterior do hospital. Apesar de todos os barulhos que se faziam sentir na sala da neonatologia, com alarmes a disparar a cada minuto, uma simples alteração como o barulho distante de uma máquina de cortar relva não lhe passava despercebido e era razão para parar o que fazia e avaliar”.

“Para mim os hotéis deviam vir publicitados com análise de odores. Nada me estraga umas férias como um cheiro desagradável na roupa da cama que mais ninguém parece notar”.

“Só consegui usar calças de ganga na idade adulta, após descobrir alguns tipos de jeans que não me incomodavam. Quando a minha mãe me obrigava a vestir ganga na minha infância era como se alguém passasse o dia inteiro a arranhar-me as pernas com areia”.

“Quando a minha filha tinha 2 anos fiscalizava todos os peluches oferecidos antes de lhos dar. Se ela se deparasse com um cuja boca não sorrisse era um desespero, com ela a gritar e perguntar porque é que o boneco estava tão triste enquanto tentava desesperadamente fazê-lo sorrir com as suas pequeninas mãos”.

“O meu filho chorava ao assistir ao pôr-do-sol. Lembro-me do dia que exclamou «É tão belo que até doí!». Tinha ele 3 anos”.

 

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