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A Parentalidade Consciente é a última moda de como educar um filho?

A Parentalidade Consciente intemporal e que a maioria dos pais de hoje ambiciona praticar não é um conjunto de técnicas de como bem educar. Mas sim um estado de espírito, uma forma de estar e até respirar, muito mais difícil de definir e alcançar.

 

A Parentalidade Consciente está na moda e cativa muitos pais, particularmente aqueles que ambicionam criar os filhos de forma diferente à que foram criados.

Eu incluída.

A Parentalidade Consciente é apresentada e/ou interpretada como um conjunto de técnicas que ajudarão os pais a criarem seres humanos felizes, emocionalmente inteligentes e saudáveis, bem integrados e sucedidos na sociedade moderna, íntegros, originais, resilientes e muito mais.

Ou seja, a Parentalidade Consciente é apresentada como a fórmula para criar os filhos com sucesso.

Sob este prisma podemos dizer que a Parentalidade Consciente é o último grito, a última moda de como bem educar um filho. Já tivemos a década do autoritarismo, a década da permissividade, a década de educar as crianças como se fossem inerentemente más, a década de educar as crianças como se fossem inerentemente boas e a década de educar as crianças como se fossem adultos pequenos. Agora como que estamos na década de educar conscientemente.

Mas já se perguntou o que é realmente a educar conscientemente? Criar um filho com consciência?

Definições teoricamente bonitas à parte, a Parentalidade Consciente existe mas é muito mais do que é apresentado.

Muito mais profunda na intensidade do trabalho a ser realizado e na sua dificuldade. Muito mais intensa na consciência a ser atingida e assustadora nas escolhas a serem efetuadas. Muito mais confusa, cinzenta e desconfortável do que alguma vez imaginamos.

E, como tal, é intemporal e sem dúvida a melhor forma com que cada um de nós pode educar os filhos.

O que é para mim a Parentalidade Consciente: um trabalho solitário e individual

A Parentalidade Consciente quando apresentada e/ou interpretada como a fórmula de bem educar os filhos ou um conjunto de técnicas para criar futuros adultos física e emocionalmente saudáveis é teoricamente muito boa e apelativa. Mas tal como o comunismo ou a globalização política, incapaz de ser traduzida na prática.

Porquê? Porque a verdadeira Parentalidade Consciente tem que vir de dentro de cada um de nós e para uns pode significar autoritarismo, para outros permissividade e para terceiros algo ainda por definir. 

Ser uma mãe ou pai consciente é muito mais do que seguir um livro ou uma filosofia de parentalidade. Para mim, até é um contrassenso fazer tal.

Sim, eu sou linearmente contra bater nos filhos e quem me conhece sabe que nem sequer concordo com o tempo de pausa, os reforços positivos, as consequências naturais ou o ensinar de inteligência emocional nas escolas.

Sim, concordo que as crianças de hoje vêm televisão a mais, que os jogos eletrónicos e tablets libertam as mesmas hormonas associadas ao vício do álcool ou droga e que o chocolate é combustível altamente inflamável para crianças com um sistema de alarme hiperativo. E que criança não tem um sistema de alarme hiperativo no mundo de hoje?

No entanto sou mãe de uma menina de 6 anos que adora e come bastante chocolate, adormeceu muitos anos a ver televisão, cujo canal de desenhos animados favorito está claramente desenhado para cativar através da libertação das hormonas do vício e cuja antiga professora da pré-escola (que eu adoro e recomendo a todos os pais que conheço e não conheço) dá aulas de educação parental que incluem o uso de técnicas como o reforço positivo e até tempo de pausa.

Para mim nada disto é incongruente na Parentalidade Consciente, no que realmente diz respeito a educar um filho com consciência.

Porque para mim a Parentalidade Consciente é conhecer como uma criança se desenvolve saudavelmente, quais os impedimentos e favorecimentos da sociedade moderna a esse crescimento e como potenciar, neste contexto, esse mesmo desenvolvimento.

Mas a verdadeira Parentalidade Consciente vai muito mais longe, é muito mais do que tudo isto.

É descobrirmos quem somos, quem desejamos ser para os nossos filhos e aprender a dançar com tudo isso no mundo real.

 

A verdadeira Parentalidade Consciente, ou aquela que é intemporal e coerente nos seus resultados, implica virar a consciência para nós mesmos e para o momento presente.

É perceber que tudo tem vantagens e desvantagens e a única forma de as primeiras serem superiores às segundas é quando somos íntegros com o nosso ser.

Mas isso implica conhecer-nos a nós mesmos.

Para isso é essencial criar as partes de nós que ficaram presas na imaturidade, acolher o que um dia renegamos em nós mesmos para sobreviver e atrevermo-nos a viver com vulnerabilidade.

É perceber que só eu sou o especialista no meu filho, só eu o conheço verdadeiramente, só eu possuo as respostas, por muito assustador ou solitário que isso possa ser.

É aceitar que a perfeição é uma utopia e tentar ser um pai ou mãe perfeitos é sobre nós e para nós (para nos sentirmos bem como pais) e quase nunca no melhor interesse dos nossos filhos.

E apesar de tudo não baixar os braços, ambicionar sempre ser o melhor pai ou mãe que consigamos ser.

É saber que um dia vamos descobrir que um ou mais dos nossos piores momentos como pais foi quando achamos que fizemos tudo certo e um dos nossos melhores momentos foi quando achamos que tínhamos falhado redondamente.

E não permitir que tal tolde a nossa ambição por fazer sempre melhor.

Criar com consciência é aceitar, acolher e celebrar que não há 2 crianças iguais nem 2 pais iguais. Pelo que o que funciona com um pode não funcionar com o outro, que o que é o melhor para o desenvolvimento de um não é necessariamente o melhor para outro. E vice-versa.

Por isso mesmo a verdadeira Parentalidade Consciente é, antes de tudo o mais, uma prática individual.

E como pode uma prática individual ser traduzida numa filosofia ou livro que pretende ensinar e orientar uma multidão de seres individuais?

A verdadeira Parentalidade Consciente tem que vir do interior de cada um e só cada um pode encontrar por si as técnicas para o fazer.

Ser um pai ou mãe consciente é perceber e assumir a realidade de que nós somos a resposta para os nossos filhos, mesmo quando não temos respostas. E procurá-las no exterior faz de nós seres dependentes em vez de cuidadores.

Nós somos a resposta dos nossos filhos, tudo o que eles precisam porque somos o seu Porto Emocionalmente Seguro. E desde quando é que um Porto Seguro anda de canto em canto à procura de segurança?

A Parentalidade Consciente intemporal e que a maioria dos pais de hoje ambiciona praticar não é um conjunto de técnicas de como bem educar. Mas sim um estado de espírito, uma forma de estar e até respirar, muito mais difícil de definir e alcançar.

Mas só porque é mais difícil de perceber, definir ou praticar não significa que não seja real e o que todos os que pretendemos educar os filhos com consciência devamos almejar alcançar.

 

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