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A minha filha não é um projeto, é uma relação

 

Eis o que mais me tem custado a aprender nestes quase quatro anos de maternidade: a minha filha não é um projeto, é uma relação.

A minha filha não é um projeto de trabalho. A maternidade não é uma carreira profissional.

Então porque crio objetivos de curto e longo prazo? Então porque é que vivo cada momento, cada interação com ela, tendo por base o ser humano que gostava que ela fosse?

Porque estou equivocada na essência do que é ser mãe. A minha filha não é um projeto, é uma relação.

Imaginem se eu fosse amiga como muitas vezes sou mãe?! Agindo com base no que será melhor para a minha amiga no futuro em vez de me focar no que ela precisa no momento presente.

Imagine que é minha amiga e vem ter comigo porque está a precisar de desabafar, de falar mal do trabalho, do marido ou até queixar-se dos filhos. Qual a minha postura?

Escuto-a, valido-a, faço-a sentir-se compreendida. Dou-lhe um abraço, acompanho-a às compras, a tomar um chá, a beber um copo, a aproveitar um dia de praia, ou pura e simplesmente amparo o seu choro. Não fujo de si, não respondo ao pedido de ajuda com um “já és crescida, já devias ter mais responsabilidade e saber lidar com situações assim sozinha” ou com um “eu bem te disse que isto ia acontecer, mas tu não me quiseste escutar. Vou-te ajudar, mas que seja a última vez, pois já tens idade para saber fazer melhor”.

Não me parece que respondesse assim a uma amiga, nem me parece que tentasse resolver os seus problemas assumindo o controlo da vida dela. Seria ridículo pensar que uma amizade iria longe com tais comportamentos.

Mas é isso que fazemos com os filhos.

A diferença é que quando investimos na manutenção de uma amizade, investimos na qualidade da relação. Sabemos que uma amiga não quererá estar perto de nós ou escutar a nossa opinião se não sentir com toda a clareza que estamos do lado dela dê para onde der. E sabemos tudo isto de forma bastante instintiva.

 

Mas com os filhos fazemos diferente. Com os filhos queremos ensinar, queremos controlar, queremos preparar. E tudo isso são projetos, não relações.

Com os filhos, as nossas interações têm sempre em mente o futuro, a pessoa em que eles se vão tornar. Interagimos com eles tendo por base, consciente ou inconscientemente, a sua felicidade futura, a sua capacidade de se adaptarem ao mundo em geral e a um futuro trabalho em particular, os seus futuros resultados escolares. E tudo isso são projetos, em tudo iguais aos projetos de trabalho.

Com os filhos vivemos no futuro, traçamos objetivos e sacrificamos a relação presente em detrimento de desejados resultados vindouros.

Mas com os amigos vivemos no presente, não pensamos ensinar-lhes como viver a vida, apenas os queremos apoiar e ajudar a encontrarem o seu próprio caminho.

É claro que um filho não é o mesmo que um amigo. É claro que as responsabilidades são diferentes. Mas isso não significa que a nossa postura tenha que ser divergente. Bem pelo contrário.

Para mim, o papel de um pai e de uma mãe é orientar. A nossa função de pais é ajudar os nossos descendentes a navegar neste mundo por vezes tão paradoxal, a descobrirem quem são, quais as suas qualidades e defeitos e como os podem usar para viverem o mais felizes possível. Mas isso não é, nem de perto nem de longe, igual a partir do princípio que sabemos o que é melhor para eles e como atingir o resultado final. Os nossos filhos são pessoas, não projetos empresariais.

E esta é uma das lições que me tem sido mais difícil assimilar. O meu papel de mãe é perceber o que a minha filha precisa no momento presente como ser humano em evolução que é. Não o que eu acho que ela necessita hoje para ser o que eu sonho que ela seja amanhã. Os sonhos e as deduções de necessidades são minhas. A vida é dela.

A minha filha não é um projeto, é uma relação.

 

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